Pesos e medidas

Foto: Blog do Anderson
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Jorge Maia

Eu era menino, e não faz muito tempo, trabalhando no comércio com meu pai e aprendi alguns aspectos práticos da vida. Todas as pessoas deveriam passar pelo setor de vendas, permitindo-se a ter um contato com a diversidade humana, assistindo e participando de cenas e episódios engraçados, às vezes trágicos, mas sempre com algum valor pedagógico para a vida. Leia na íntegra.

Dentre outras coisas, eu vendia ferragens e algum material que era vendido em quilos, na maioria das vezes fracionado em gramas: pregos, chuliadeira, alguém sabe o que é isto? Cola para madeira, óxido de ferro e tantas outras coisas, pesadas na pequena balança ali existente. Todos os anos o IMETRO passava por lá conferindo a balança e nunca sofremos qualquer tipo de multa ou autuação. Nossa balança sempre estava no fiel.

Algo me intrigava, era quando os clientes pediam um quantidade de certo produto e exigia que fosse bem pesado. Atendi  a muitos pedidos de clientes que diziam: quero  meio quilo de oxido de ferro, bem pesado. Confesso que me irritava diante tal exigência pois aprendi que meio quilo tem quinhentos gramas, se mais, ou menos gramas, então não seria meio quilo.

Comecei a rebelar-me contra aquele tipo de exigência, pois não podia compreender a mensagem subliminar que o comprador emitia. Passei a responder de forma irônica, mas com cuidado, para não perder o cliente e nem receber uma broca do meu pai, pois a maioria dos compradores era formada por  pessoas mais idosas e poderia se sentir ofendida com o atrevimento de um menino.

Passeei a responder que não existia um quilo bem pesado, nem mau pesado, ou era um quilo ou era mais, ou era menos e que a nossa balança estava aferida e sabia pesar corretamente, era uma balança ensinada. Alguns sorriam, achando graça do meu atrevimento em responder dessa forma a uma pessoa mais velha, outros ficavam calados com ar de aborrecimento.

Hoje eu compreendo àquelas pessoas. Estavam tão acostumadas a recebe  quilo de novecentos gramas, meio quilo de quatrocentos gramas, que não confiavam em mais ninguém. A minha meninice não sabia que era assim, não enxergava que no pais tudo funcionava pela metade, como ainda acontece. Nada é completo, só a insegurança. A educação é pela metade, a saúde é apenas um quarto do desejável, a cultura um terço, a estabilidade apenas uma fração. Peço desculpas àqueles clientes, pois queriam um peso, pesado corretamente, acostumados a serem tungados, comparando a todos, queriam dizer; por favor, não me roube. 100515

 

 

 

 

 


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