Jorge Maia
Eu era menino, e não faz muito tempo, e relembro com certa saudade a leitura da revista em quadrinhos – A Turma do Pererê – criação de Ziraldo destinada ao público infantil. Era com ansiedade que eu frequentava a banca de revistas, era assim que se chamava. A banca ficava ali na Praça Nove de Novembro, apelidada de Praça do Acarajé. João Cairo era quem trazia todas as revistas e jornais para a nossa cidade, e a banca fazia inveja a qualquer uma de Salvador, era um lugar visitar, pelo menos em meu sonho de menino. Leia na íntegra.
Dentre todas as revistas, A Turma do Pererê era a minha preferida. As histórias se passavam na Mata do Fundão e a maioria dos personagens era bichos, todos tão simpáticos e tão brasileiros que encantavam. Sim brasileiros, mas sem patriotada ou nacionalismo besta. Era uma identificação com apoio que hoje chamamos de pertencimento.
Sentia-me amigo de cada personagem: Saci, o chefe da turma, de gorro vermelho e cachimbo, viajava em seu redemoinho, um meio de transporte rápido, sua namorada era a Boneca de Pede. Seus amigos: Tininim, o mais próximo deles, era o namorado de Tuiuiú, eram inseparáveis. Alan, o macaco, Geraldinho, o coelho, Galileu, a onça, o índio Flecha Firma e em especial mãe Docelina, que parecia a mãe de criação do Saci, mas era mãe de todos.
Ziraldo preservou o nome mata, uma coisa tão nossa, pois hoje as pessoas falam em floresta, apenas o homem do campo ainda fala em mata. E a turma cuidava da mata, tinha uma consciência ecológica, cuidava do seu mundo com muito carinho.
Claro que não podia faltar o vilão, ou melhor os vilões: Cumpadre Tonico e e seu Nenê, ambos caçadores e tinham como plano maior caçar a onça Galileu, mas sempre se davam mal, pois a onça era uma figura mansa com os amigos, mas uma onça para com os inimigos.
Lá pela década de setenta, deixaram de publicar A Turma do Pererê, não sabemos o porquê, alguns falam em censura, que a revista estava na mira da ditadura, que possuía conteúdo político. Não sei ao certo o que houve. mas faz uma falta danada. Nossos filhos iriam adorar, pois as revistas eram muito melhores que a produção da televisão, vez que permitia usar a imaginação e viver cada aventura de modo bem pessoal e criativo
Tempos depois, 1995(?) houve o lançamento de duas ou três edições especiais. Comprei-as, mas não sei em que lugar estão agora, pois em mudanças as coisas desaparecem. Espero que um dia elas sujam do nada, encontradas quando eu estiver procurando outra coisa, como costuma acontecer. Vou desistir do que procuro e esconder-me e lê com saudade aquelas aventuras. 200515