O Brasil escancarado

Jeremias Macário

A impressão que temos é a de que vivemos num país medieval, bem antes da Revolução Francesa (1789). De um lado temos reis e rainhas, príncipes e princesas, duques e duquesas, condes e condessas, e, do outro lado, os súditos vivendo na pobreza e na subserviência das injustiças.  Nobres e lordes lá do alto que manobram a massa ignara e sempre querem mais e mais. Leia na íntegra.

 Estamos numa nação de mordomias e safadezas escancaradas entre os três poderes (executivo, legislativo e judiciário) que não temem mostrar as vísceras das desgraças de um povo, por considerarem que se trata de uma gente que nunca vai reagir, mesmo que se arranque tudo dela, além da dignidade e a vontade de viver. O que esses nobres pensam é que esse castelo nunca vai ruir.

 O título acima poderia ser também de “O Brasil Envergonhado” porque cada vez mais roubam e nos entopem de propagandas enganosas do tipo de que as eleições, do modo que eles plantaram, são as saídas para a moralização, quando deixam tudo pior do que antes. Tudo neste país atrasado é mentiroso e nos ensinam a viver nos faz de conta, na base de um enrolando o outro.

 Já dizia o estadista francês George Clemanceau que “nunca se mente tanto quanto antes das eleições, durante a guerra e depois da caça.” Nem é preciso falar muita coisa sobre o que está acontecendo, mesmo depois das manifestações nas ruas. Li há pouco tempo um comentário que cita kierkgaard; “Só os ladrões e os ciganos dizem que não se deve voltar onde já se esteve”. Ocorre que no Brasil os ladrões voltam, inclusive para saquear a mesma vítima.

 Agora mesmo juízes e desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro conseguiram aprovar um projeto onde seus filhos passam a ter direito a bolsas de estudos no valor de quase mil reais cada um, mesmo que estejam matriculados em escolas publicas ou privadas. O benefício é limitado a até três filhos por cada família e estendido aos servidores.

  Por todas as mazelas escancaradas há anos pelos devoradores de seres humanos desprotegidos e ludibriados é que temos hoje um Brasil envergonhado aqui dentro e lá fora, que sempre ocupa posições as mais negativas no ranking da educação, da saúde, da segurança, do saneamento e da competitividade.

  Na educação, por exemplo, entre 76 países avaliados pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil ocupa 60ª posição, junto da Argentina, Colômbia e Peru, e próximo de nações africanas. Em primeiro lugar da lista, Cingapura registrou altos índices de analfabetismo na década de 60. Por que conseguiu este êxito? Não precisa explicar!

    No ranking da competitividade na economia é outra vergonha escancarada. Entre 61 nações estudadas, ficamos com o 56º lugar, superando apenas a Mongólia, Croácia, Argentina, Ucrânia (em guerra) e Venezuela. Estamos a léguas de distância dos Estados Unidos, Hong Kong, Cingapura, Suíça e Canadá.

 Na falta de um ensino de qualidade, aprendemos que a fé supera tudo e colocamos nossas ações maléficas e tropeços nas mãos de Deus. É a vontade Dele, como sempre diz a igreja. Para contemporizar a situação, palestrantes do Sebrae e pregadores de auto ajuda incutem um orgulho que não existe e afirmam que as crises são bem vindas para superarmos desafios e aprendermos  as saídas. Se for assim, que as crises sejam eternas.

  Embora tenha fugido um pouco do assunto, queria mesmo saber até quando esta nobreza sem vergonha na cara vai nos enganar e continuar engordando e curtindo às nossas custas com “reformas políticas” e projetos conservadores e escravagistas como a terceirização, redução da maioridade penal e outras aberrações genéticas.

  A verdade é que não temos mais orgulho nem no futebol. Muito pelo contrário, o que vemos são roubalheiras, cartoladas, voadeiras, pernadas, capoeiras, lutas livres, quebra-quebra, sarrafos e chuteiradas dentro e fora de campo. Será que sabemos para aonde vamos? O dito é que um dia vai dar certo. Será que somos um povo amaldiçoado pelos deuses?