Menino de feira

Foto: Blog do Anderson
Foto: Blog do Anderson

Jorge Maia

Eu era menino, e não faz muito tempo, mas eu não me lembro. Já tentei percorrer os caminhos da memória e não consigo encontrar referências sobre aqueles momentos. Certamente eu era bem criança e a lembrança escondeu-se em algum lugar  muito secreto do passado. Quem sabe uma viagem na máquina do tempo poderia me fazer visualizar aquela experiência! Leia na íntegra.

 Sei do fato pela voz do meu pai, foi ele quem me relatou, pois eu nunca me lembrava daqueles momentos, meu pai ” como quem vejo no olho da memória” a relatar sobre aqueles dias. Confesso que sempre achei graça e procurava rever aquela cena, digo cena porque queria assistir a minha representação em papel tão singelo e tão inocente, essas coisas que a gente guarda para contar para filhos, e para netos que vão chegar.

O lugar era Aracatu, em plena feira de um sábado qualquer, ou de tantos sábados, eu carregava uma bandeja vendendo cocadas feitas por minha, não digo produzidas, afinal não era uma fábrica. O verbo fazer parece mais caseiro e apropriado para a informação. A feira não era grande e a casa em que eu morava era próxima do local da feira, não era preciso caminhar muito para chegar ao meu trabalho.

Não sei qual era a moeda da época, nem o preço da cocada, apenas sei que eu as vendia, e, segunda contava meu o pai, conseguia vender todo o estoque. Esta lembrança perdida no tempo faz-me pensar naqueles meninos que trabalham na feira. Alguns vendendo alguma coisa, outros carregando feiras para os clientes das barracas, isso em pleno sábado ou domingo, quando deveriam estar em momentos de lazer,depois de uma semana de sala de aula.

O mundo pouco mudou. É tão conservador que o discurso político que ouvimos na última  eleição para presidente da República, de todos os candidatos, parecia algo do século dezoito. A pobreza verbal e as ideia pareciam sair de pessoas desconectadas da vida atual, desconhecendo as necessidades da população. Penso que está explicado a continuidade de meninos trabalhando nas feiras de modo a levar para casa um trocado para o feijão da família.

 O mundo continua o mesmo, ” às vezes é preciso mudar alguma coisa para que as coisas continuem as mesmas” ou podemos concordar que ” mudaram as estações e nada mudou”. O mundo optou pela desigualdade, permite que um número muito grande de crianças precise trabalhar, aos invés de estudar e brincar. 140615


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