Se há um consenso entre os servidores que trabalham diariamente na Prefeitura de Vitória da Conquista, certamente é a respeito da qualidade do trabalho de Iêda Costa Santos, 52 anos, responsável pela limpeza do sanitário feminino. “Ela limpa o banheiro praticamente de duas em duas horas. É uma pessoa muito caprichosa”, diz Célia de Jesus Silva, coordenadora do setor de Higienização e chefe imediata de Iêda. Esse “capricho” no trabalho diário é o mesmo há aproximadamente 25 anos, desde que Iêda entrou para o serviço público municipal, inicialmente como gari. Depois, há cerca de dez anos, foi transferida para o prédio da Prefeitura, onde atua como auxiliar de serviços gerais. Todos os dias, chega às seis da manhã e só sai no final da tarde. Além da reconhecida competência profissional, sua fama entre os colegas se deve à forma como se relaciona com eles. “Não tem coisa melhor do que a gente dar respeito para os outros. Esse negócio de ficar brigando não fica bem”, diz Iêda, que garante receber na mesma medida o respeito que dedica aos colegas. Segundo ela, isso torna mais aprazível o seu expediente. “É divertido. Dá gosto fazer o que eu faço”, conta. Leia na íntegra a história de Iêda.
A expressão de Iêda raramente se altera. Mantém sempre um olhar que, à primeira vista, parece levemente triste, mas é suavizado por um sorriso discreto, quase imperceptível. E é desse modo que ela fala sobre si. Diz que é conquistense de nascimento, tendo crescido na Rua do Cruzeiro, onde mora até hoje. Parece ter boas lembranças da infância, quando já ajudava a mãe nas tarefas domésticas e no trabalho de lavar roupa para fora. Iêda ainda era criança quando perdeu o pai. A mãe, hoje idosa e acometida pelo mal de Parkinson, ainda mora com ela. A mesma casa abriga seus dois filhos, dois netos, um irmão e uma sobrinha, que também tem duas crianças. Trata-se de uma daquelas casas antigas e grandes, cuja área vai de uma rua a outra – a frente para a do Cruzeiro e o fundo para a das Pedrinhas. E é nesse ambiente que Iêda passa praticamente todo o seu tempo, quando não está no trabalho. Dificilmente sai de casa. Aos fins de semana, limita-se a ajudar na limpeza da casa e na lavagem das roupas, entre outras tarefas. Quando termina o trabalho doméstico, costuma se distrair em frente à televisão. Tem especial apreço por Sílvio Santos. “Assisto desde quando eu era pequena. Só desligo a televisão quando o programa dele acaba”, conta.
Com os incentivos e cuidados diários que recebe de seus colegas de trabalho, Iêda se viu livre de um incômodo: o analfabetismo absoluto. A responsável por isso foi justamente sua chefe, Célia, que, além de trabalhar na Prefeitura durante o dia, é responsável por uma turma de adultos do programa Todos pela Alfabetização (Topa), no período noturno. Célia adotou Iêda como aluna e passou a ministrar-lhe, nas horas vagas do expediente, os mesmos conteúdos que passava a seus alunos na noite anterior.
Em 2012, Iêda assinou o próprio nome pela primeira vez. Hoje, já consegue compreender textos. E as aulas continuam. Diariamente, assim que conclui a limpeza do banheiro, a servidora vai ao setor de cópias da Prefeitura, onde Célia trabalha, e se põe a estudar os conteúdos, que envolvem pintura de desenhos e exercícios de escrita. “Quando eu sumo, é porque estou aqui, estudando e fazendo tarefa”, diverte-se Iêda. Para Célia, esse aprendizado serve como uma espécie de “terapia”. “Ela se desenvolveu, teve bom progresso. É uma boa aluna, principalmente para pintar. E a autoestima melhorou muito. A alegria dela, hoje, é saber ler e escrever”, relata a professora. O resultado dessa autoestima, agora recuperada, é sentido todos os dias, tanto por quem a cumprimenta quanto pelas servidoras que podem desfrutar da eficiência de seu trabalho.