Uma missiva da Beócia

Foto: Blog do Anderson
Foto: Blog do Anderson

Jorge Maia

Beócia, 30 de fevereiro de um ano qualquer

Querido Jorge Maia, posso chamá-lo de querido? Penso que sim, você sempre cita o meu nome em sala de aula: Maria Joaquina do Amaral Pereira Góes, o que me garante certa aproximação. Quero dizer que o título da minha carta, chamada de missiva é para fazer referencia à opinião de Francis sobre palavras e meios antigos de iniciar uma correspondência, mas não é isso o meu tema de hoje, contudo, voltarei a falar de Francis no decorrer da minha missiva. Leia na íntegra.

Sabe, Jorge Maia, andei pensando um pouco sobre a Beócia. Busquei compreender um pouco a sua história e tentei enquadrar o país em todas as teorias políticas e escolas filosóficas. Passei por Marx, Hegel, Kant, Confúcio e tantos outros, mas, confesso, não me convenci de nada. É tudo tão estranho.

Aqui, em pleno século vinte e um, ainda discutimos reforma agrária, fome, segurança, racismo e tantas outras mazelas já resolvidas em países ricos em educação. Ás vezes fico pensando que não tem mais jeito. Quem sabe no futuro as mulheres sapiens ou as crianças sapiens possam melhorar  a Beócia, pois, a depender do homo sapiens continuaremos a morar na lagoa.

A falta de entusiasmo do nosso povo é perfeitamente visível. Tenho a impressão que nossas classes sociais são três: os que disputam a bolsa família, os que querem um cargo público e os que disputam uma bolsa BNDS. Os erros são sempre atribuídos aos governantes, as pessoas não erram nunca. Cá entre nós, falta um pouco de autocrítica.

É um quadro tão complicado que cheguei a conclusão de que nenhum historiador, político ou filósofo vai conseguir explicar esse País. Parece-me que só resta um nome, dentre tantos, que possa dar uma interpretação para o que ocorre aqui: Allan Kardec, e olhe lá, não sei se ele se aventuraria por tal labirinto.

Querido Jorge Maia, desculpe-me pelas lamentações, porém o costume de desabafar os meus pesadelos com você, leva-me a escrever-lhe na esperança de receber uma alento, mas noto que a sua prática  é a de não responder as cartas do pessoal da Beócia, isto não é justo, considerando que todos nós dedicamos muita atenção a você. Esperamos um dia merecer uma carta sua.

Bom, quero falar de Maria Periguete que, inconsolada, permanece na fronteira do Brasil e Beócia, na esperança de reencontrar Francis. Ela não conseguiu visto para entrar no Brasil. A coitada fica sentada, com uma faixa, protestando por não conseguir retornar ao Brasil.

Por último, ela soube que Francis não pretende voltar ao País. Ela tentou localizá-lo na Noruega, mas não conseguiu contato. As autoridades norueguesas negam a presença dele naquele País. Um detetive particular o localizou, ele está sob o codinome: terceiro filho, mas ninguém teve coragem de informa isso a ela, a coitada sofre. Um abraço, destas doces terras da Beócia. MJAPG.290615


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