Valdir Barbosa
Tenho observado com atenção, a estratégia de defesa dos brilhantes advogados, patrocinadores das causas de muitos empresários envolvidos na badalada operação Lava Jato, e me permito considerar que erram nos seus propósitos, pois, ao invés de bater de frente com a Justiça, imagino seria certo buscar uma composição. Assim afirmo vez que, no meu sentir, os acusados foram sempre, de certa maneira, vitimas de um sistema podre que corrompeu a tudo e a todos, de forma perversa tornando o ilícito, algo aparentemente correto. Note-se ainda, que tal situação não é privilégio do agora. Leia na íntegra mais um artigo aqui no BLOG DO ANDERSON.
Entretanto, apesar destas praticas serem antigas, elas se maximizaram nos últimos tempos, mesmo porque, a ganância atual trazia como propósito aparente, um projeto de poder, o que teoricamente justificaria assaltos repetidos aos cofres públicos, através dos achaques às empresas, não duvido, todas elas, vitimas de coação moral quase irresistível, posto obrigadas a aceitar o pagamento das comissões indevidas, sob pena de ficar fora do jogo. Tanto pior, quando na esteira de um plano político, os mandatários do agora engordam os bolsos e dos seus mais próximos, ilimitadamente, com riquezas acumuladas em pouco tempo, as quais não se envergonham de ostentar, ganhas na desonestidade, circunstancia que não pode ser negada por nenhum cidadão de mínimo discernimento.
Não se podem fazer omeletes, sem quebrar ovos, portanto, vejo chegada a hora do resgate que viria no propósito, sem rodeios, de revelar as mazelas, com todas as suas cores. Destarte, se sugeriria devessem ser punidos com rigor, os corruptores, ao passo que se ofereceria aos corrompidos, a oportunidade de escrever uma nova história do país, mediante o perdão judicial, ou aplicação de mínimas penas, diante da revelação sem véus, dos despautérios.
Neste viés, uma moratória, a par das benesses na esfera penal faria com que se permitisse a retomada pelas empresas, cujos executivos estão acusados de crimes diversos, das suas atividades plenas, estas, sobretudo, geradoras de emprego, com certeza, catapultas do progresso de qualquer nação, sem prejuízo do confisco de todo dinheiro desviado e dos bens adquiridos através das propinas, nas mãos de quem fossem localizados. Formar-se-ia uma nova cultura, estribada na austeridade, condição indispensável para que a verdadeira justiça social prepondere.
No desenho atual, a riqueza flagrantemente concentrada nas mãos de poucos privilegiados, se diga de passagem, muitos desonestos, conduz ao caos que, ao cabo, não interessa a ninguém. A desordem serve tão somente àqueles que querem, na esteira do desmantelo, representar uma plêiade imaginariamente capaz de trazer soluções, na verdade, impossíveis de vir a lume.
Portanto, com todo respeito aos patrocinadores destas causas aqui enfocadas, reafirmo estejam obrando de forma equivocada. Ao invés de definir uma estratégia de defesa prudente e lógica, capaz de realmente equacionar em definitivo o problema, caminham na rota da polemica destrutiva, ao pretender macular o trabalho brilhante da Policia Federal, do Ministério Público e da Justiça Criminal.
O instituto da prisão preventiva cabe sim, quando houver suspeitas de que o indiciado possa interferir na instrução criminal, com sua força, seja ela mediante ameaça física, seja através do poder econômico e político. Os escritos, as mensagens, as correspondências dos presos podem e devem sim, ser objeto de censura por parte das autoridades responsáveis pela custodia e apuração de crimes, porventura praticados por qualquer encerrado. Os fatos devem sim, ser revelados pela imprensa que, amordaçada, apenas interessa aos déspotas, bem como a todos que não desejam aflore a verdade, posto precisam viver debaixo do manto da impunidade vergonhosa.
Mesmo porque, o grande julgador das causas que afligem a sociedade é o povo, numa coletividade democrática ele, o povo, figura como grande reinante, maior mandatário e grande juiz, submisso apenas aos desígnios do Soberano, o Insuperável Magistrado.
Posso estar equivocado, mas é desta maneira que penso, mesmo porque a grandeza deste país não pode admitir estejam seus filhos, dos mais simples, aos grandes homens, hoje humilhados e reprimidos por força de combinações espúrias, feitas para atender interesses dos dominantes, em detrimento, consoante vivem na pele, de si mesmos.
O Brasil não pode continuar refém da hidra de sete mil cabeças chamada hipocrisia.
29 de Junho de 2015.
Valdir Barbosa
(Delegado de Polícia do Estado da Bahia, ex-Delegado Geral)