As redes sociais e os imbecis

Foto: BLOG DO ANDERSON
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Jeremias Macário

“Num mundo com sete bilhões de pessoas, você não concorda que há muitos imbecis? Na internet, o imbecil pode opinar sobre tudo o que não entende”. A frase é do filósofo, crítico literário e romancista, Umberto Eco, autor de “O Nome da Rosa” e do recém-lançado “Número Zero”, que recentemente concedeu uma entrevista à revista Veja. O italiano de 83 anos que faz um retrato crítico do jornalismo em “Número Zero” diz que as pessoas fizeram estardalhaço por ele ter afirmado que multidões de imbecis têm agora como divulgar suas opiniões. Deixou claro que não teve a intenção de ofender o caráter de ninguém, mas acrescentou que com a internet e as redes sociais, o imbecil passa a opinar a respeito de temas que não conhece.

Ao recomendar a filtragem, Eco opinou que as escolas devem ensinar aos seus alunos como usar a internet, mas “nem os professores estão preparados para isso”. Nesse sentido, defendeu que os jornais, ou a mídia de papel, como sempre me refiro, no lugar de se tornarem vítimas da internet, repetindo o que circula nas redes, devem abrir seus espaços para análise das informações.

Sem o exercício frequente da leitura através dos livros e veículos impressos de comunicação, os jovens de hoje não estão preparados para distinguir as informações entre o que é confiável, infundado ou tendencioso. Vulneráveis, terminam ficando expostos aos imbecis que preferem descarregar suas raivas e frustações pessoais contra os outros como vem ocorrendo nas redes sociais.

Diante da enxurrada de besteiras e leviandades no Facebook, no Whatsapp, no Twintter e outras redes, os jornais impressos, de acordo com pesquisas efetuadas, continuam sendo os veículos que ainda têm maior credibilidade entre a população (58%), seguido da televisão com 54% e o rádio com 52%.

Para a busca de informações, a internet é o menos confiável, apesar de o brasileiro passar mais de cinco horas à frente de um computador. Entre os internautas, mais de 90% ficam conectados por meio das redes sociais, sendo bombardeados por montes de asneiras, já que cada um escreve o que bem quer, sem refletir o que diz.

Quando surgiu o rádio, no final da década de 30, disseram que era a sentença de morte da mídia de papel. Vinte anos depois veio a televisão e aí “profetizaram” o fim do rádio e do jornal. Com a internet no início do século XXI ainda prognosticam que o impresso está com seus dias contados. Nunca acreditei nesses pseudos sábios profetas de palavras rebuscadas cheias de metáforas e parábolas.

Mesmo diante dessa conjuntura de confiabilidade, os jornais precisam estar atentos para não caírem na armadilha dos outros veículos, especialmente os eletrônicos. Ao se reportar à crise do jornalismo a partir dos anos 50 com advento da televisão, o próprio Umberto Eco, em seu recente livro, alerta que os jornais precisam mudar e não ficar repetindo o que já foi dito pelos outros meios.

Uma das mudanças a ser tomada pelos jornais, além da qualificação do conteúdo, seria reduzir o número de páginas e não aumentar. O dilema é como preencher os espaços. Uma saída honrosa, na concepção de Eco, é aprofundar a informação através de análises e comentários, mas alguns partiram para a fofoca e a repetição das mesmas notícias e não se deram bem, ou estão cambaleando.

Outra recomendação para manter sua própria sobrevivência e credibilidade é que o jornal não pode estar associado a outro grupo econômico. O veículo tem que estar voltado, exclusivamente, à área de comunicação. Caso contrário, o jornalismo e a informação saem prejudicados.

A confiabilidade ainda depositada na mídia impressa também foi confirmada por um levantamento do Financial Times na área publicitária. Constatou-se que os próprios Facebook, Apple e o Google preferem anunciar no jornal e na televisão.

Um dos maiores nomes da publicidade mundial, Martin Sorrell, aconselhou que anunciantes e agências deveriam investir mais na mídia impressa, “em função da eficiência que jornais e revistas têm na construção de marcas e fixação de mensagens junto aos consumidores”. Acompanhando este raciocínio, publicitários brasileiros concluíram que a internet é dispersiva.

Com essa onda de malucos, as pessoas acreditam mais naquilo que é noticiado e anunciado nos jornais (impresso ou digital). Trata-se de uma audiência formadora de opinião. A onda da novidade está passando. Até agora, neste ano de 2015, o próprio Facebook investiu 400 vezes mais em publicidade nas mídias tradicionais do que em todo o ano passado.

BAIXARIAS NAS TVS ABERTAS

Da internet para a televisão aberta, o que se vê são programas apelativos de baixarias que deformam as cabeças das crianças, jovens e adultos. Não adianta mudar de canal. Não deveria ser assim porque TV é uma concessão pública e, como tal, tem responsabilidades sociais.

Especialistas no assunto apontam que a onda aparece de dez em dez anos. Em 1980 surge o programa “O Povo na TV” com todo tipo de aberrações, como pancadarias e matérias sensacionalistas, expondo gentes pobres. Era a TV nova de Silvio Santos.

Nos anos 90 vieram os programas policialescos, como o de Luiz Carlos Alborghtti que defendia o linchamento de criminosos e o esquadrão da morte. Depois veio o Ratinho com um porrete na mão e atacava os grupos de direitos humanos.

No ano 2000, o João Kleber na Rede TV. O Ratinho continuou apostando nas brigas entre casais. As ONGS e o Ministério Público se posicionaram contra e houve uma calmaria, mas no ano passado os programas de baixo nível voltaram com tudo, inclusive o sexo semiexplícito das novelas da Globo, sem contar “Casos de Família”, do SBT, “A Tarde É Sua”, da Rede TV, o popularesco “Esquenta”, de Regina Casé, “Tá na Tela”, de Luiz Bacci, da Band, dentre outros.
Quando se fala em regulamentação, os donos de canais e apresentadores que buscam audiências a qualquer custo confundem a opinião pública argumentando que normas neste sentido significam retrocesso e retorno à ditadura militar dos tempos da censura. Outros justificam que é disso que o povo gosta e quer assistir, e ai, tome baixaria.


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