Em 10 de setembro de 2014, o São Paulo venceu o Botafogo por 4 a 2 no Estádio Mané Garrincha, em Brasília. O jogo, válido pela 20ª rodada do Campeonato Brasileiro daquele ano, deixou o time paulista mais perto da liderança, então ocupada pelo Cruzeiro, e dificultou ainda mais a campanha da equipe carioca, que terminaria sendo rebaixada para a Série B. O jogo foi eletrizante, com duas viradas antes do placar final. Mas, para um dos personagens envolvidos naquele espetáculo, a adrenalina foi causada por outros motivos. Trata-se de um servidor da Prefeitura de Vitória da Conquista: Marielson Alves Silva, que esteve presente àquela partida. Ele desempenhou, naquele jogo, funções bem diferentes das que exerce diariamente na Secretaria Municipal de Administração. Não foi nas arquibancadas, mas no gramado. E simplesmente como árbitro do jogo! Aquela foi a estreia de Marielson como juiz na Série A do futebol brasileiro. “Olhei para o lado e vi jogadores campeões do mundo, como Kaká. E me senti privilegiado”, relata Marielson, que confessa ter sentido um “frio na barriga” antes da partida. Mas assegura, também, que esse sentimento só durou até o momento em que soprou o apito e declarou o início da partida. “Quando começou o jogo, a ansiedade acabou. Nós éramos todos profissionais ali e tínhamos que falar a mesma língua”, diz ele, hoje com 33 anos. Leia na íntegra um pouco da história desse jovem conquistense.
Início em Conquista – No Brasileirão de 2014, Marielson ainda apitaria mais sete jogos. O árbitro faz parte dos quadros da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) desde 2008, mesmo ano em que ingressou na Prefeitura via concurso público, inicialmente no setor de convênios da Secretaria Municipal de Saúde. Antes de chegar ao atual nível profissional, ele já havia atuado na Série B, na Copa do Brasil e no Campeonato Baiano – do qual, aliás, foi eleito o melhor árbitro na edição de 2012. Mas o início de tudo, mesmo, foi em Vitória da Conquista. Marielson ganhou experiência e pôde se aperfeiçoar tecnicamente enquanto arbitrava em competições de futebol amador – a exemplo do Campeonato da Zona Rural, promovido pela Prefeitura. Isso lhe garantiu visibilidade, a ponto de ser convidado a fazer parte da Federação Bahiana de Futebol (FBF). Graças ao convite, Marielson participou de um curso de arbitragem com duração de um ano, em Salvador. E o bom desempenho nas partidas do Baianão deu origem, então, a outro convite, desta vez da CBF.
‘Paixão’ – O envolvimento com o futebol, pelo qual ele diz ter verdadeira “paixão”, é algo que surgiu na infância, vivida na capital baiana. Mas isso só foi ser levado a sério a partir dos 14 anos, quando ele voltou com a família para a cidade natal e entrou em escolinhas de futebol. Por ser canhoto, jogava na lateral ou na ponta esquerda e chegou a ser considerado um jogador promissor. Mas aí começou a ajudar o pai a apitar os jogos dos garotos mais novos. Isso o levaria a cumprir sua trajetória inusitada: deixou de correr atrás da bola para tornar-se de vez a maior autoridade dentro de campo. Foi a forma que encontrou para continuar envolvido com o futebol. Hoje, sua rotina se divide entre o trabalho na Administração Municipal e as viagens para apitar os jogos para os quais é sorteado. Nos últimos meses, participou de confrontos entre CRB-AL e Grêmio (13 de maio, pela Copa do Brasil), Náutico-PE e América-MG (5 de junho, Série B) e América-RN e Cuiabá-MT (11 de julho, Série C). Enquanto executa suas tarefas diárias, também não deixa de conferir periodicamente o site da CBF, a fim de verificar se seu nome não foi sorteado para mais alguma partida. “Gosto muito da parte administrativa. Mas o futebol se tornou uma paixão”, declara. “Aqui todo mundo me apoia. É muito importante esse reconhecimento”.
‘Sonho’ – A disciplina que impõe dentro de Campo, Marielson também exige de si mesmo. Quando não está na Prefeitura, cumpre uma rigorosa rotina de treinamentos físicos e estudos teóricos sobre arbitragem. Dedica-se ao boxe e ao jiu-jitsu e procura manter hábitos saudáveis. “O meu resultado dentro do campo vai depender muito do que eu faço fora dele”, justifica-se. Além do futebol, há outra “paixão”: a filha Mirelle, de 11 anos. E Marielson vive seu cotidiano em busca do objetivo que definiu para si – e que se materializará no dia em que ele receber o próximo convite, que o levará ao auge de sua carreira paralela: o da Fifa, entidade máxima do futebol mundial. “É o sonho de todo árbitro”, afirma.