Jorge Maia
Eu era menino, e não faz muito tempo, e havia algo que eu gostava muito; o começo do ano letivo, era uma festa. Eu cuidava de forrar todos os livros dos irmãos. O cheirinho de livro novo, as novidades que cada volume apresentava era algo encantador, para mim era uma festa. Havia um uma preferência pelo livro de leitura, explico, todo ano havia um livro de textos que chamávamos de livro de leitura. Era aquele livro com vários textos, de diversos autores, no qual fazíamos a leitura em sala de aula e interpretávamos com toda a turma o conteúdo lido. Também era a prática da leitura em voz alta. Naquele volume também havia a parte dedicada ao estudo da gramática. Leia na íntegra.
Ontem, eu fiquei algum tempo em minha modesta ” biblioteca” digo modesta pela quantidade de volumes, muitos não tão famosos, mas significativos. Posso assegurar que o mais simples deles é mais importante do que qualquer what zap desses que circulam por aí. Em silêncio percorri com os olhos as lombadas já tão conhecidas e deparei-me com um daqueles livros referido inicialmente: Língua Pátria, de Maximiniano Augusto Gonçalves, autor adotado por alguns colégios de Conquista.
Examinei o livro, datado de 1967, buscando em seu índice os títulos indicados. Encontrei: Alma minha de Camões, naquele tempo não se falava em cacófato, Constância Amorosa, também Camões, além de Martins Fontes, Antero de Quental, Tobias Barreto e outros mais.
Meus olhos pararam no título Beleza e Formosura de Almeida Garret, texto do século dezenove em que ele se dirigia às mães dizendo que a formosura não ficou em dote para todas as filhas de Eva. E mais, que beleza não é formosura nem lindeza, mas que beleza é o resultado das graças, e toda mulher educada pode ter graças, alertando às mães que não cuidam de outros encantos da filha, se não o da beleza física.
Em elogio à educação, afirma que ela “embrandece peles duras; amacia mãos ásperas; dá graça e doçura a olhos de pouca luz…; faz elegante o corpo que não é airoso, amável o que não é lindo, engraçado o que não é formoso”.
Por fim, aconselha às mães para que não se preocupem se as filhas não são bonitas, mas sim em educá-las. E tudo isso levou-me a uma reflexão: o texto é atual. Dois séculos depois e tudo conseguiu piorar. Garret se espantaria com a atualidade do seu texto.
O endeusamento do corpo e a admiração pela beleza física engordam os cofres das academias e dos cirurgiões plásticos por aqueles que em luta desesperada buscam a beleza perfeita, sem nunca alcançá-la. Nosso padrão continua sendo peitos e bundas volumosas. Não há quem cuide da beleza do cérebro. Até nossas crianças, as meninas, imitam seus ídolos; algumas imitando a dança em que a bunda aparece com destaque, em precoce sexualização, os pais não percebem o engano, até incentivam. Tudo isso por falta de outro padrão ou referência. Viva a educação! 250715