Beócia 30 de fevereiro de um ano qualquer
Querido Jorge Maia,
posso chamá-lo de Querido? Acho que sim, e nas próximas cartas não farei mais esta pergunta. A situação está feia, nos transformamos em um país de muitas metas e não abemos se estamos cumprindo alguma delas, às vezes eu penso que é melhor não ter meta nenhuma. Todos os setores estão em queda. Greves por todos os lados. A gasolina custa um dólar o litro e a cebola fugiu dos pratos deixando-nos na dúvida sobre qual comprar. Leia na íntegra.
O mais grave é a situação política, todos estão perdidos, os discursos são os mais patéticos, confesso que as opiniões dos políticos são de uma indigência que merece piedade, sem contar a piedade da qual nós somos credores e desta nem o Poder Judiciário da Beócia escapa.
Imagine, nós temos Juízes que não moram na cidade, viajam de avião e quando não é possível pousar eles só vem no dia seguinte, adiando as audiências e nem sequer pedem desculpas ao povo que lhes paga os salários. A comunicação é difícil, juízes há que se quer responde a um bom dia, outros são completamente indiferentes ao seu trabalho. Apesar de tudo, alguns advogados ainda tentam agradar, puxando o saco, está é uma espécie detestável.
Os processos não andam, é um desespero. Não sabem os governantes que a economia do país está encarcerada dentro do judiciário, pois nada passa por lá sem que represente economia. Ninguém vai ao poder judiciário sem que seja por algum valor econômico. Até o crime contra a honra deixou de ser alegado, agora é dano moral, na tentativa de se obter algum trocado, o dinheiro compra quase tudo.
O governo está pensando em uma reforma do Poder Judiciário, parece que vão seguir o exemplo do Brasil, aumentando os salários, oferecendo auxilio moradia, sessenta dias de férias por ano, estabelecer que as férias não gozadas não prescrevem, isso é coisa de gente pobre.
O certo é que o Poder Judiciário não ajuda a minorar o sofrimento de tantos que poderiam ter a sua vida normalizada, mas as normas não são aplicadas.
Claro que não poderia deixar de falar da minha vida pessoal e das pessoas amigas. Nesta semana tive uma recaída pela saudade de BEL, sem o Chicletes com Banana a vida perdeu um pouco a graça. Maria Periguete acha que está grávida e está pensando em uma ação de investigação de paternidade, o problema é que o suposto pai mora na Noruega e tudo fica mais difícil.
Em breve enviarei mais notícias. Um abraço. Destas doces terras da Beócia. Maria Joaquina do Amaral Pereira Góes. 020815