Lucas chegou!

Jorge Maia

Sim, Lucas chegou. Foi uma viagem iniciada há nove meses, não sabemos ao certo o dia da partida, enquanto a chegada era apenas uma noção. Sua nave deslocou-se vagarosamente até o dia em que aportou em nosso mundo. Era esperado com ansiedade, e todos faziam previsões quanto a sua chegada, todos falharam, mas enfim ele chegou. Leia na íntegra.

Vai encontrar um mundo difícil, desigual e injusto, mas nem por isso menos fascinante, pois a vida é bela. Ele terá a oportunidade de contribuir para uma existência melhor. O mundo precisa de gente assim, disposta, otimista e corajosa. Ele não precisará ser um herói, basta que seja bom. A estrada é longa, nem sempre o caminho é deserto, terá encontros e os desencontros da sequência natural da existência. Ele compreenderá que não há nada de novo debaixo do sol, mas que o mundo pode ser melhor.

No caminho para visitar Lucas, eu pensei nos casos que eu contarei a ele. Falarei do meu tempo de menino, que não faz muito tempo. Falarei das histórias do seu pai quando menino, contarei sobre suas tias e sobre a sua vó. Inventarei mentiras e fantasias que as crianças gostam de ouvir. Contarei do meu cachorro e de tudo mais que eu me lembrar. Eu tenho muito o quê contar, e ele deverá ter paciência para ouvir.

No caminho, entre tantos pensamentos, ensaiei o meu cumprimento a Lucas, mas logo me dei conta que ele ainda não sabe a nossa língua. Vindo de outro lugar, o seu idioma é difícil, o mesmo ele pensa sobre o nosso. O tempo o ensinará a comunicar e logo teremos um bom parceiro para uma boa conversa e trocaremos dois dedos de prosa, pessoalmente ou por Whats app. Eu sabia que a minha saudação não teria reposta imediata, mas ainda assim a fiz: Oi, Lucas!

Uma vida que se anuncia trás esperança, surge como um sopro em direção à bondade e à luminosidade do universo alimenta e a nossa expectativa de ocorrer mudanças positivas. Não permite a desistência dos nossos sonhos e nos deixa recuar diante das dificuldades. Problemas! Sempre os teremos. Continuamos com a questão dos refugiados, tão bem retratado por Fellini em “La Nave Va”, escravidão, fome, a falta de liberdade, tortura e corrupção. Sei que tudo isso tem solução.

Fiz como planejei. Cheguei e disse: Oi, Lucas! Ele não respondeu, nem sequer olhou para mim, mas compreendi e sei que em alguns meses ele saberá o nosso idioma e em um dos nossos encontros ele dirá: Oi, vô! 100815