Jeremias Macário
“Me solta gente que eu quero atravessar a fronteira”, mais que atual para os tempos de hoje, a citação faz parte de um dos versos das duas primeiras obras do poeta e escritor caetitense, Camilo de Jesus Lima, que foram lançadas ontem na Câmara de Vereadores de Vitória da Conquista, sua terra adotiva desde 1930 até sua morte em 1975 quando foi atropelado pelo motorista de um ônibus, em Itapetinga, em plena ditadura militar. Leia na íntegra.
Desde a primeira iniciativa em 1994 no governo do prefeito Pedral Sampaio, somente agora seus dois primeiros trabalhos foram publicados pela Assembleia Legislativa, com a intermediação do deputado estadual José Raimundo. Por determinação do prefeito, segundo o secretário de Administração na época, Vicente Quadros, o escritor Mozart Tanajura ficou encarregado de reunir suas escritas e datilografar o material.
Tudo estava sob a guarda do filho do escritor, Luis Carlos de Jesus Lima, conforme ele próprio nos confirmou, não sabendo explicar muito bem como demorou tanto tempo para finalmente sair os primeiros livros intimistas de suas poesias. Uma explicação pode ser o desleixo dos governantes para com a cultura.
De lá para cá, o projeto passou por várias mãos, inclusive da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-Uesb, com a participação do advogado e professor Ruy Medeiros, que presidiu a solenidade de lançamento. Em sua fala, destacou que Camilo ainda se faz necessário nos tempos de hoje, quando se referiu ao verso sobre o querer atual dos refugiados das guerras e da fome atravessar as fronteiras para a Europa.
O que seu pai deixou escrito, segundo Luis Carlos, dá para publicar mais de dez obras entre contos, poesias, prosas e romance. Ruy afirmou que as duas primeiras obras se referem aos seus poemas do período de 1920 a 1960, tendo muito mais coisa para ser impressa. A ideia é lançar os outros trabalhos para conhecimento das pessoas e preservação da sua memória.
Se estivesse vivo, Camilo estaria completando 103 anos, mas faleceu em 1975. Sobre sua morte, o filho declarou que até hoje existe a suspeita de ter sido um atentado da ditadura militar (o escritor foi preso em 1964 juntamente com o prefeito Pedral Sampaio e outros companheiros), pois após seu falecimento, no mesmo dia do atropelamento, Luis Carlos revelou que o motorista do ônibus sumiu. “Passei quatro meses à sua procura, mas ninguém soube informar onde ele estava”.
Participaram da solenidade de lançamento dos livros, além de Ruy Medeiros, o presidente da Academia Conquistense de Letras, Mozart Tanajura Júnior, o presidente da Casa da Cultura, Carlos Jeovah, o secretário da Cultura do Município, Nagib, e os deputados estadual e federa, José Raimundo e Waldenor Pereira.
Estudantes, jornalistas, vereadores da Casa, familiares do escritor e intelectuais Ubirajara Brito, Nudd de Castro, Vicente Quadros entre outros lotaram a Câmara Municipal para prestigiar o evento que já deveria ter acontecido há muitos anos porque Camilo de Jesus Lima não é apenas um poeta e escritor de notoriedade e relevância regional. Suas obras são universais e eternas.