Herzem Gusmão
Os dados sobre os índices de violência nos 27 estados brasileiros, divulgados pela Secretaria Nacional da Segurança Pública, jogam um balde de água fria na propaganda do governo baiano. Quase todos os meses, a cúpula da Secretaria da Segurança Pública costuma se reunir para apresentar estatísticas sobre a criminalidade na Bahia. E, invariavelmente, os números apontam para uma queda da violência no estado, apesar de toda a onda de insegurança que a gente vê no dia a dia, não apenas nas grandes cidades, mas também nos pequenos e médios municípios. Leia a opinião na íntegra.
Agora, confrontados com as informações de um órgão oficial, os números revelados pelo governo estadual não passam de miragem ou de propaganda enganosa. No ano passado, a Bahia foi o estado que apresentou o maior número absoluto de homicídios no país. Foram 5.450 assassinatos, o que dá uma taxa de 36 homicídios para cada 100 mil habitantes. Pior ainda: a Bahia respondeu por 11,63% (mais do que qualquer estado) de todos os assassinatos registrados no ano passado no Brasil. Isto simplesmente é estatística de país que está em guerra.
Apenas como comparação, São Paulo, o maior estado do país, com 41,2 milhões de habitantes, registrou no ano passado 4.294 homicídios (9,8 assassinatos por 100 mil habitantes). Outros estados importantes, como Rio de Janeiro e Minas Gerais, também tiveram menos homicídios, de acordo com a Secretaria Nacional de Segurança Pública. No Rio, foram 4.610 assassinatos (28 homicídios/100 mil) e, em Minas, 3.958 (19,1/100 mil).
E qual a desculpa do governo quando os dados oficiais insistem em desmentir a ficção de sua propaganda? O governador Rui Costa e os dirigentes da Secretaria da Segurança Pública dizem que a metodologia da pesquisa está errada. Essa resposta é simplesmente inacreditável, um atentado à inteligência dos baianos. Quem mora na Bahia, em qualquer uma das 417 cidades, sabe muito bem que o estado perdeu o controle sobre a segurança pública. As pessoas de bem estão trancafiadas em suas casas e os bandidos, soltos.
É preciso mudar esta triste realidade. Não podemos aceitar com absoluta naturalidade que aconteçam dezenas de homicídios todos os dias, que as saidinhas bancárias e explosões de caixas eletrônicos sejam uma rotina, que os jovens troquem a sala de aula pelo tráfico. Mas, para que isso aconteça, o governo precisa reconhecer suas falhas no combate à criminalidade. É preciso investir mais nas Polícias Civil e Militar, equipar as delegacias, quase todas sucateadas, priorizar o serviço de inteligência e colocar o efetivo nas ruas para defender o cidadão.
Dizer que a metodologia da pesquisa está errada não convence mais ninguém, até porque a frieza dos números reflete a insegurança que campeia em nosso estado: foram 5.450 homicídios em apenas um ano, ou seja, é como se a cada dia de 2014 quase 15 pessoas (entre crianças, adolescentes, jovens e idosos) fossem assassinados. Quem sabe agora, com a divulgação de dados tão alarmantes, o governo passe a combater efetivamente a criminalidade e deixe de contestar os dados de pesquisas.
* Herzem Gusmão é deputado estadual pelo PMDB.