Jorge Maia
Querido Jorge Maia, acostumei-me a chama-lo assim, nem peço licença. Aqui na Beócia estamos vivenciando uma crise das brabas. No centro da cidade tem mais de quinze imóveis fechados e sem candidatos para locação. Parece que nos resta apenas vigiar e orar. A principal crise é a crise moral, isto é a falta de moral. Temos um verdadeiro truelo: Executivo, legislativo e Judiciário em conflito permanente, até parece obra de Sérgio Leone: o bom, o mau e o feio, mas no nosso caso não tem o bom. Aliás, só o mau. A única semelhança na verdade é que são três, mas o personagem é somente um: o mau. Leia mais.
Não sabemos aonde vamos parar, alguns acham que estamos parados há muito tempo, mas a sensação é que estamos girando, puro efeito da vertigem a que fomos conduzidos. Às vezes tenho a impressão de que precisamos ressuscitar a esperança. A Beócia não pode acabar. Acho que acabei de criar um slogan.
O que me preocupa é que o natal não vai acontecer este ano. Não que eu me preocupe com o natal, porém não deixar de ser um instante de festa, cuja origem religiosa já foi esquecida, contudo é um período em que as pessoas podem fingir sem censura que o mundo está bom, não existe racismo, outros preconceitos e nem parece que existe problemas na faixa de Gaza e nem violências em nossas periferias. Claro, no dia vinte e seis, dia seguinte, ninguém se lembra mais da fingida solidariedade.
Eu soube, por ouvir dizer, que Papai Noel não virá à Beócia neste ano. Não ignoramos que a sua presença trás algum alento para algumas pessoas, em especial às crianças, vítimas maiores do nosso modelo político econômico, mas de algum modo faz alguns olhos brilhar, mesmo que seja por conta da inocência da nossa gente tão simples.
Os rumores são diversos, alguns alegam que é por conta da crise, outros afirmam que o velhote desanimou conosco e perdeu a esperança. Outros falam que é por conta da idade, dizem que é o preço dos combustíveis e a cotação do dólar.
Eu tenho certa dúvida sobre tudo isso. Todos sabem que Papai Noel mora na Lapônia, região próxima da Noruega e que o seu boicote à Beócia se dá por conta do pedido de um brasileiro, seu conterrâneo Jorge Maia, que mora ali. Ouvi dizer que o objetivo é prejudicar-me, negando o direito de ter um natal. Eu não esperava isso de Francis.
Um abraço, destas doces terras da Beócia, Maria Periguete, 171015.