Jorge Maia
De volta a Beócia, deparei-me com uma população entristecida. Uma gente cabisbaixa e sem o sorriso costumeiro com que recebe os visitantes. No aeroporto não havia distribuição de fitinhas do Padroeiro daquela terra: São Benedito dos Inocentes. Voltei, atendendo a um convite de Zé Picuinha, para assistir a uma palestra que faria no auditório da UEBE. Leia na íntegra.
Descansei um pouco no hotel, depois resolvi andar pelas ruas próximas, rever o doce encanto daquelas praças, às quais me acostumara a visitar sempre que pela Beócia eu passava. Andei pelas ruas principais, encontrei pessoas conhecidas, mas evitei longas conversas, preocupado com o horário da palestra. Ao longe, avistei a casa de Maria Periguete, na porta tremulava uma bandeira da Noruega. Simplesmente, sorri.
Chequei no auditório em que a palestra seria realizada, abri a porta devagar, deixei minha sombra entrar primeiro e de pronto avistei Zé Picuinha assumindo o microfone e iniciando a sua palestra. Percebi que ele me vira entrar e procurei sentar-me bem próximo do palco.
Zé Picuinha procurou justificar o tema da palestra, pois sendo algo novo, quem sabe um novo ramo do Direito, da Ciência do Direito, era necessário uma breve explicação, e aquela palestra tinha a finalidade apenas daquela explicação, só depois é que haveria a estruturação do novo conteúdo, o qual poderia transformar-se em disciplina autônoma.
O objetivo era o de criar os Direitos Almanos, sim, porque os Direitos Humanos não conseguiram emplacar na Beócia. Há uma grande barreira psicoestrutural que impede a compreensão daquele conteúdo. A Beócia talvez seja o único país a ter uma corrente contra os Diretos Humanos. Há algo de errado em tudo isso, dizia ele.
Em continuidade, disse mais: Não temos certeza do que ocorre depois da morte, mas se realmente as almas precisam passar por certas experiências para serem purificadas, creio que os fatos ocorridos aqui na terra serão usados como argumentos pela acusação e pela defesa nos julgamentos celestiais, ou infernais, de modo que precisamos compensar a ausência de Direitos Humanos com os Direitos Almanos, permitindo que sejamos julgados com o abatimento dos nossos pesares humanos, reduzindo ou nos absolvendo naquelas instâncias superiores. Quem sabe, seremos recompensados pela ausência de Direitos Humanos nesta terra em que não mana leite e nem mel!
De outro modo, temos que pensar no grande mercado de trabalho que se abrirá para os advogados, em especial para os novos advogados. Devo lembrar que um dia Jorge Maia, aqui presente, falou-me sobre a tese de um aluno sobre o Direito Sobrenatural. Quem sabe, aquele jovem previu o futuro, vislumbrou o mais novo ramo do direito. Mais uma vez simplesmente sorri, se é que se permite sorrir de algo assim, mas, de qualquer modo, considerei uma luz no fim do túnel.071115