Parabéns Conquista pelos 175 anos: Em terra de cabra macho, querendo ser mandado por mulher!

Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal

Alexandre Aguiar

Existe uma designação que sempre gosto de mencionar e já fiz isso no Blog do Fabio Senna, que infelizmente saiu do ar, mas a considerar que Vitória da Conquista é a cidade onde nasci e Glauber Rocha disse, “sou de Conquista, terra de cabra macho!”, em uma das poucas menções textuais pessoais que ficou registrada, à cerca de nossa cidade natal, em um de seus desenhos, publicados em livro, onde rabiscou um personagem de bangue bangue. Conquista é buliçosa, terra de gente de opinião. Minha mãe é uma mateira da Encruzilhada da Bahia com o norte das Minas Gerais, que migrou para a “Cidade das Rosas”. Meu pai, um catingueiro, que chegou da Chapada Diamantina para o “Planalto da Conquista”. Tenho saudade de morar nesta terra, mas as areias do tempo nunca param na ampulheta da vida. Leia na íntegra.

Este torrão natal é sertão da Bahia, onde algumas pessoas alegres com os invernos mais intensos e com a verticalidade recente estão chamando a cidade de “Suíça Baiana”, que talvez seja uma visão elitista, ou apenas uma designação sertaneja do frio, mas como a Suíça Europeia é um país que não deve ter pé de mandacaru, que por sinal não dá sombra e nem encosto, prefiro acreditar que seja um contraponto bem humorado aos nossos índices de desenvolvimento humano.

Na última vez que olhei, no ano de 2010, Vitória da Conquista foi apontada como a 11ª cidade brasileira onde morriam mais jovens em um universo de 100 mil habitantes, segundo o Mapa da Violência, sendo que no passado alguns antigos falavam que era a capital da vingança privada. Deve ter saído daí a inspiração de Glauber Rocha para a personagem “Antônio das Mortes”, ou talvez só uma crítica, para dizer que violência deveria ficar presa nas telas do cinema, pois o bom mesmo é viver em paz.

Por outra perspectiva afetiva e menos ácida, nosso povo é pacifista e ordeiro. Assim, prefiro os apelidos e chamados mais carinhosos de Conquista, a exemplo de: “Viquista da Contoria”, “Capital Mongoió”, “Joia do Sertão Baiano”, ou apenas “Sertão da Ressaca”, e por força desse nome, mesmo depois de ter deixado de beber, preciso reconhecer que fiz muitos e bons amigos e amigas neste canto do mundo, deixando além das lembranças, saudades da infância e adolescência. Este modismo linguístico, de ficar incluindo o feminino na retórica, pode até fazer a esposa ficar com ciúmes. Tomara que não.

Algumas pessoas diziam e acho que até hoje há quem diga que Conquista é erudita, de famílias tradicionais, dos fazendeiros, das lavouras de café, dos grandes criadores de gado, dos prósperos e abastados comerciantes. Tudo isso é coisa boa, mas ainda me lembro da Conquista popular, e não a “conquista popular” que os (des)políticos atuais e recentes decantam nas peças publicitárias para cabular voto, mas aquela da minha infância dos anos 90, com festas de largo, blocos afros e escolas de samba, é verdade, Conquista já teve escola de Samba.

Em Conquista a fé sertaneja está demonstrada nos templos religiosos e imagens sacras, modo que olhando para trás, verifico que passei a compartilhar uma visão religiosa do mundo. Fico alegre só de lembrar da imagem da Catedral de Nossa Senhora das Vitórias, das Igrejas Batistas, e das semanas nos Centros Espíritas Kardecistas.

Neste contexto, na Universidade, de uns anos para cá, um pesquisador, inspirado na liberdade de crença, mencionou que Conquista não é resultado apenas das religiões tradicionais de matizes Europeias. Foi feito até um mapa religioso da cidade por método próprio, desvelando que nas periferias conquistenses existem outras práticas religiosas e tradições populares com ancestralidade áfrico-indígenas.

Será que algum dia vão deixar o pesquisador publicar suas impressões sobre “As religiões Afro-Brasileiras em Vitória da Conquista” e também a obra “Do Púlpito ao Baquiço”? São só dois livros. Ou será que na academia do sudoeste baiano, onde a baianidade nos legou Jorge Amado, vão continuar a preencher os baremas dos editais públicos da FAPESB e Editora Uesb com nota baixa?

Na Universidade pública do Sudoeste tem deputado que é doutor em Compostela, tem deputado que publica livro sobre Quilombo, com anuência de Reitor, mas professor e estudante pesquisador, pelo menos os que conheço, encontram uma dificuldade imensa e silenciosa, pois sequer tem requerimentos respondidos, na forma da Lei de Informações Públicas, apenas para nos legar dois exemplares com estudos que são custeados por recursos públicos da pesquisa Nacional.

Quero crer que não seja falta de boa vontade dos avaliadores dos editais, já que nas Universidades Paulistas, as pesquisas sobre as Religiões em Vitória da Conquista são avaliadas com louvor e distinção.

Fazendo uma abordagem sobre política, desde o fim do Pedralismo e suas lideranças diversas, nada de inovador ou autêntico surgiu em meu torrão natal. Como sou cidadão e sempre gostei de me deslocar às urnas, mesmo quando era facultativo, pois votei aos 16 anos, por desgosto com a politica em Conquista, acabei de transferir meu título, e neste ano de 2016, pela primeira vez, desde que me tornei eleitor, terei o desprazer de nem em Conquista ir mais votar. Assim, vou logo jogar um “agouro”: tomara que o Povo nunca mais vote nos mesmos, ou nos aliados dos mesmos, aposentando-os todos.

Com tudo que mais nos resta, parabéns Vitória da Conquista pelos seus 175 anos. Fico encantado quando o mundo abraça a genialidade dos seus filhos naturais e emprestados, à exemplo de Glauber Rocha, Elomar, Xangai e até Gilberto Gil, que também bebeu a água do Rio Verruga, quando era limpa.

Ainda falando em água, em meio a tantas promessas, sonho em tomar banho com a água limpa da barragem do Rio Pardo, ou ir ao aeroporto novo ver um avião pousar, pois nem coragem de andar naquilo eu tenho.

Continuo afirmando que em “terra de cabra macho, quero ser mandado por mulher”, daí pergunto  a Fabio Sena, quem será a futura Prefeita de Conquista? Quem Será?

Deixo um abraço do tamanho da Serra do Piri Peri.


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