Com tantas tragédias e catástrofes climáticas, terremotos, furacões, inundações, guerras, ódio, indiferenças, intolerâncias raciais e religiosas, consumismo desvairado e doenças malignas, inclusive ao nosso redor, batendo em nossas portas todas as horas e dias da vida, será que a humanidade deste planeta terra tem salvação como apregoam filósofos e pensadores otimistas? Leia na íntegra.
Mesmo neste estado de ebulição constante de pavor, pânico e terror, já ouvi muito de estudiosos e intelectuais a profecia de que a terra caminha para uma convergência humanística de harmonização e solidariedade entre os povos. De que, diante de tantas ganâncias e desrespeito entre os seres, ainda é possível o encontro definitivo tão desejado com a paz. No mais profundo do nosso íntimo, o que vemos mesmo e para aonde vamos?
Desde o início do último século que se passou, a terra ainda continua como um caldeirão fervente pronto a explodir, e não me refiro apenas ao aquecimento global amplamente discutido. “Coisa do fim do mundo”, ou “sinal dos tempos” eram expressões simples e matreiras mais usadas pelos pais dos nossos pais da nossa geração quando se deparavam com comportamentos ousados e rebeldes, principalmente dos jovens.
Uns diziam que era coisa de velho atrasado e outros vaticinavam que a tendência era piorar ainda mais. Se vivos fossem, o que eles diriam hoje diante de tantas atrocidades e perversidades humanas? Pode até ser uma discussão simplista, mas os acontecimentos excessivamente desumanos nos convocam a refletir sobre este caminho para o fim que a maioria não quer encarar como verdadeiro e previsível.
Não estamos lidando apenas com a questão de pai matar filho e filho matar pai, ou irmão matar irmão, porque isto já está na origem da natureza, mas com as monstruosidades incontroláveis criadas pelo próprio homem que faz a terra entrar em ebulição final. A estupidez e o barbarismo das criaturas de hoje têm seus próprios criadores de ontem. Através da raiva de seus criadores, cães geneticamente deformados agora destilam seus venenos mortais e cruéis.
A história está ai ao longo dos séculos para comprovar os fatos, e não adianta dissimulação ou tentar contemporizar com ajustes e pensamentos filosóficos que nos convençam que essa panela vai esfriar porque todos poderosos e habitantes vão se conscientizar e entregar suas armas. Não estou aqui, exclusivamente, tratando daquelas letais e mortíferas que abatem seres no apertar dos gatilhos. Como está, sinceramente, não acredito na profecia do melhor.
No mundo capitalista, incluindo aí o mercado chinês, cada país nas reuniões de cúpulas procura driblar o outro para dissipar a fumaça das suas chaminés poluidoras. O propósito é vitaminar mais ainda a economia com mais lucros através das gastanças para fortalecer o poder. As metas de descontaminação são manipuladas através das chamadas estatísticas criativas enquanto a degradação avança. A natureza não espera pelas ações concretas. Ela reage a cada provocação.
As tecnologias dos chips eletrônicos do mundo virtual dão uma sensação aparente de felicidade para disfarçar as frustrações e o vazio humano enquanto aumenta o consumo desnecessário e inútil, especialmente entre os mais abastados, derramando toneladas e mais toneladas de lixo tóxico na terra que ferve e pede socorro.
Aos horrores, as religiões apelam para a clemência de Deus como se Ele fosse intervir para deter a destruição final. Nos atentados terroristas, a voz uníssima é a de que nada se justifica. É certo, mas pouco se olha para o passado imperialista das invasões norte-americanas e seus coligados tentando impor, na base do fogo e das bombas, uma ordem e uma crença ocidental para explorar as riquezas dos mais frágeis.
A mídia aproveita as barbáries para esmiuçar suas entranhas e expor as vísceras das carnificinas na busca de mais audiência. Foi instituída uma hierarquia para a morte onde um sírio, ou um afegão, vale menos que um francês e este menos ainda que um norte-americano. Crescem o ódio e a arrogância maniqueísta com discursos de uma só nota, mas a indiferença humana logo retoma seu posto, tanto que uma pessoa pode andar nua nas ruas mais movimentas e agitadas sem ser percebida.
No Brasil já existem ciclones, tornados, desastres com desabamentos de terras, inundações e até pequenos terremotos, sem contar a violência (trânsito, homicídios, assaltos e chacinas) que deixam mais de 100 mil mortes por ano. Com as mudanças bruscas de temperaturas, no futuro o Nordeste vai se tornar num grande deserto de areias e pedregulhos escaldantes.
O país não vive literalmente uma guerra, mas a corrupção, os desmandos e a incompetência administrativa dos governantes matam milhares nos corredores dos hospitais e deixam um rastro de miséria e ignorância por falta de uma eficiente educação, sem contar a desnutrição entre os mais pobres que nascem com atrofias física e mental. Temos regiões de nanicos.
Os vales, as margens e os leitos dos rios estão corroídos pela lama e detritos de todas as espécies nocivas, não somente o rio Doce, em Minas Gerais, que acaba de receber uma carga pesada de uma barragem de resíduos minerais. O rio São Francisco que corre cinco estados agoniza lentamente. Os lixões prosperam por todos os lados. A fiscalização é sempre ineficaz e conivente com o capital.
O horror e a barbárie também estão aqui em ebulição perto de nós, e o pior ainda está por vir. O que estamos deixando para as novas gerações, senão um resto de alimento estragado, tanto no campo das ideias como das riquezas naturais. Os homens-bombas mascarados não são apenas os terroristas fundamentalistas radicais islâmicos.