Edwaldo Alves Silva | Sociólogo | [email protected]
Um antigo adágio popular reza que “ depois de mim virá quem me fará bom”. Claro que não podemos aceitá-lo como uma verdade absoluta, mas, se analisarmos com cuidado o que tem sido a atual presidência da Câmara dos Deputados, perceberemos que há muita verdade nessa manifestação da sabedoria popular. O atual presidente da Câmara Federal pelo seu comportamento e atitudes desavergonhadas e insanas redimiu e absolveu todos os piores deputados que presidiram aquela casa. E não foram poucos. Infelizmente, o conceito do povo sobre o parlamento brasileiro é o pior possível. Basta a simples leitura de pesquisas sobre a imagem pública de diversas instituições para se perceber que o parlamento situa-se entre as mais desprestigiadas pela população. É uma pena porque me situo entre aqueles que consideram esse poder fundamental para a vigência plena do estado de direito, da legalidade e da democracia representativa. Políticos como o atual presidente Eduardo Cunha envergonham e desonram ao extremo o que resta de dignidade na Câmara dos Deputados. Leia na íntegra.
A história brasileira registra acontecimentos marcantes que engrandeceram alguns poucos homens públicos que exerceram com honradez a presidência daquela casa. Até conservadores como Adauto Lucio Cardoso, um dos mais conhecidos bacharéis da UDN, renunciou à presidência em protesto pela cassação de mandatos de parlamentares oposicionistas. Essa atitude ocorreu em plena ditadura militar, notando-se, ainda, que Adauto Lucio Cardoso foi um dos organizadores e estimuladores do golpe que derrubou o legítimo presidente – João Goulart. Não se pode desprezar o papel democrático e importante que Ulisses Guimarães desempenhou na presidência da Câmara e no Congresso Constituinte.
Infelizmente, a maior parte dos deputados que presidiram a Câmara dos Deputados não se preocuparam em dar seriedade e altivez ao cargo. O deputado Ranieri Mazilli, que presidiu a casa por largo período, teve bastante tempo para demonstrar sua mediocridade. Em 1961, serviu, docilmente, aos generais que pretendiam impedir a posse do presidente eleito. Em 1964, fez pior. Após o golpe militar, posou como uma verdadeira caricatura de presidente rodeado pelos generais que o tratavam como o fantoche que realmente era. No período em que os militares permitiam que um falso parlamento permanecesse aberto, escolhiam pessoas que obedecessem sem discutir. Entre os que cumpriram esse triste papel, despontou a figura grotesca de José Bonifácio de Andrada e Silva, conhecido como “Zezinho Andrada”. Verdade, para vergonha da histórica família, era descendente do Patriarca. Sem qualquer pudor e para atender a ditadura, declarava com a maior desfaçatez ”sou cada vez mais Zezinho e cada vez menos Andrada”. Já no período democrático, tivemos o folclórico Severino Cavalcante, deputado inexpressivo oriundo daquilo que se chama de baixo clero. Utilizado pelas forças oposicionistas ao Governo Lula, foi inesperadamente alçado ao cargo de Presidente da Câmara dos Deputados. Após alguns meses de ações despropositadas e ridículas foi indiciado por extorquir 10 mil reais mensalmente do concessionário do restaurante da Câmara. Para conservar os direitos políticos renunciou ao mandato. O comunista Aldo Rebelo foi eleito presidente da Câmara para arrumar a bagunça deixada por Severino.
Poderíamos continuar citando exemplos negativos ao infinito, mas já temos o suficiente para afirmar que nem a soma de toda a mediocridade acumulada na presidência da Câmara dos Deputados nas últimas décadas se iguala ao despudor que exala a presidência de Eduardo Cunha. Sua ascensão à presidência foi fruto dos interesses do baixo clero, de insatisfações pessoais, da política irresponsável da oposição principalmente do PSDB, e, infelizmente, também, da falta de coesão da base aliada do governo. Nunca a mesa da Câmara foi tão instrumentalizada para atender objetivos menores e menos nobres. Além de tentar obstaculizar propostas que buscam prosseguir no rumo do aprofundamento democrático, garantir e ampliar direitos, aumentar o leque de preservação dos direitos humanos, tenta, continuadamente, retroceder conquistas e avanços sociais.
Ainda bem que além da mentira a imoralidade também tem as pernas curtas. Envolvido até o pescoço em casos de corrupção, o indecente deputado foi pego em flagrante mentira. Em depoimento, sob juramento, em CPI da Câmara, afirmou descaradamente que não possuía um centavo sequer em contas no exterior. Sua mentira permaneceu até ser provado o contrário pelo Ministério Público da Suiça que apresentou extratos de conta bancária de seu controle com milhões de dólares depositados. Procurando preservar a imagem desgastada do parlamento deputados sérios remeteram o triste episódio para a Comissão de Ética da Câmara. Inconformado, e não envergonhado, Eduardo Cunha, buscou aliciar e pressionar parlamentares para o processo não ser acolhido pela Comissão de Ética. Ultrapassou todos os limites éticos e morais ao tentar barganhar com o PT e o governo de Dilma a sua complacência em relação ao pedido de Impeachment em troca da não aceitação do seu processo na Comissão de Ética. Evidentemente essa proposta indecente foi completamente rechaçada pelo PT e pela presidenta Dilma. Serviu apenas para mostrar a falta de caráter de quem preside a Câmara dos Deputados, que recente pesquisa do Datafolha revelou que é considerado a personalidade menos confiável no país.
Mas, Eduardo Cunha não está sozinho. Por trás da sua cadeira encontram-se aqueles que desejam o interrompimento do processo democrático e do respeito ao resultado eleitoral do último pleito. O PSDB, DEM e outros derrotados eleitoralmente, sabem que o processo de impeachment não vai para lugar nenhum pela sua inconstitucionalidade, pela inocência da presidenta Dilma, pela impossibilidade política e principalmente pela reação que provocará nas forças democráticas e populares e nos movimentos sociais. O Objetivo de Cunha é tentar se livrar de responder pelos seus crimes, o da oposição, com o PSDB à frente, é impedir a estabilidade política e a necessária confiança para estabelecer o clima propício para a retomada do desenvolvimento econômico. Infelizmente, jogam no quanto pior melhor para desgastar e fazer sangrar o governo Dilma. Esquecem-se do povo e do país.
Os vergonhosos ex-presidentes da Câmara, de Mazzili a Severino, olhando para a história podem ponderar: “É, surgiu quem nos fez bons, o Eduardo Cunha é pior do que nós.”
Edwaldo Alves Silva é filiado ao PT.
Uma Resposta para “Edwaldo Alves: De Severino a Cunha, de mal a pior!”
marcos
Bom dia,
o momento que passamos nada mais é do que a incompetência
Dessa classe política que o Sr.pertence,não tente nos ludibriar com acusações.
Lembrando que o seu partindo é que é responsável pelo caos que estamos vivenciado.