Patrícia França | A TARDE
A crise política e econômica, que tende a se aprofundar em 2016, o tensionamento gerado pelo processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e os desdobramentos da Operação Lava Jato darão o caldo da campanha eleitoral do próximo ano. Na Bahia, estarão em cena as duas principais lideranças políticas: o governador Rui Costa, do PT, e o prefeito de Salvador ACM Neto, do DEM. Ambos focando a disputa para escolha de prefeitos e vereadores, porém de olho no Palácio de Ondina em 2018. Leia a reportagem na íntegra.
Mas Salvador, a capital e principal colégio eleitoral do estado, servirá de palco para o grande confronto, que não será nada fácil para os dois. Tanto que as estratégias eleitorais no governo e na oposição já estão sendo definidas.
O governador, para evitar que o hoje bem avaliado ACM Neto vença no primeiro turno, tem reafirmado a política de aliança e estimulado as siglas da base a também lançar candidatos a prefeito.
No tabuleiro já estão colocados os nomes dos petistas Nelson Pelegrino (secretário de Turismo do governo), Gilmar Santiago (vereador) e Walmir Assunção (deputado federal). Um grupo de petistas trabalha pela inclusão do ministro da Cultura e ex-vereador de Salvador, Juca Ferreira.
O PCdoB indicou a deputada federal Alice Portugal, e o Pros sairá com o deputado estadual Sargento Izidório. O PSB tende a indicar a senadora e ex-prefeita de Salvador, Lídice da Mata, enquanto o PTB sugere o vereador Edvaldo Brito.
Rui Costa, afirma o sociólogo e professor da Ufba, Joviniano Neto, sabe dos obstáculos que terá de transpor para levar um aliado ao Palácio Thomé de Souza.
Apesar das dificuldade financeiras, diz ele, o governador terá de manter uma imagem positiva e conseguir , de fato, que as obras que vem trazendo para Salvador – metrô, encostas e mobilidade urbana – consigam “impedir ou diminuir” a vitória de Neto.
“Pela primeira vez, o PT poderá ter de apoiar um candidato da sua base, quando a tendência histórica é o partido ter candidato em Salvador. E isso, num momento em que o PT precisa reafirmar a sua força, contra a imagem de que ele estaria quebrado”, diz Joviniano.
Quanto a 2018, o sociólogo entende que o governador, para se reeleger, vai precisar garantir que os partidos da base obtenham, nesta eleição municipal, bom resultado nas urnas em todo o estado, sobretudo em municípios considerados emblemáticos do ponto de vista eleitoral. Estão neste grupo Salvador e Feira de Santana, governados pelo Democratas, e Vitória da Conquista, onde o PT comanda a prefeitura, mas enfrenta o desgaste de estar há 20 anos no poder.
Estratégia
O prefeito ACM Neto também montou estratégia para “amarrar” os partidos que hoje integram sua base. Como se movimenta mirando 2018, caso seja reeleito, só ficará no cargo até a metade do mandato. Caberá ao vice, portanto, cumprir o restante da gestão na prefeitura.
O que fez ACM Neto, então? Filiou em cada partido da base um secretário de sua confiança, com a promessa de que um deles poderá vir a encabeçar, ao seu lado, a chapa majoritária.
Assim, colocou Guilherme Bellintani (Educação) no PPS; Silvio Pinheiro (Urbanismo) no Solidariedade; e Luiz Carreira (Casa Civil) no PV. O prefeito conta, ainda, com os peemedebistas Bruno Reis (deputado estadual licenciado e secretário de Promoção Social) e Fábio Mota (secretário de Mobilidade Urbana).
O nome forte do PSDB para compor eventual chapa com Neto é o do presidente da Câmara Municipal de Salvador, vereador Paulo Câmara.
Para o sociólogo Joviano Neto, o prefeito de Salvador para conseguir se consolidar de fato para 2018 terá de obter uma vitória expressiva na eleição do próximo ano – e no primeiro turno.
Além disso, vai ter de ampliar a presença de seus aliados em cidades consideradas estratégicas, como Camaçari, Vitória da Conquista e Itabuna, e manter o poder em Feira de Santana e Salvador – os dois maiores colégios eleitorais da Bahia.
“O prefeito precisará transformar em votos os índices de aprovação de seu governo apontados nas pesquisas”, afirma Joviniano. Há outro desafio, diz ele: “Conseguir manter, durante a campanha municipal, o entusiamo e o engajamento dos vários candidatos a vice que, na verdade, são candidatos a prefeito da capital.
Mas Neto pode contar a seu favor, em 2016 e por tabela em 2018, com a eventual ascensão do vice Michel Temer à presidência, caso ocorra o impeachment de Dilma Rousseff.
Michel é presidente nacional do PMDB e próximo ao ex-ministro Geddel Vieira Lima, dirigente do partido na Bahia e grande aliado de Neto. Com Temer no poder, o democrata passaria a ter um protagonismo que hoje não tem com o PT no Planalto. Tanto que netistas admitem que, uma vez reeleito, o prefeito deixaria o DEM para se filiar ao PMDB.