Jorge Maia: Os alfaiates não estão chegando

Foto: BLOG DO ANDERSON
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Jorge Maia | Advogado | [email protected]

Eu era menino, não faz muito tempo, e curtia quando iniciava o ano letivo e podia fazer uma farda nova. A calça podia ser de tergal ou de um brim azul escuro, pois era a regra da época em todas as escolas. Comprar o tecido e levar para o alfaiate era uma festa. Naquela época era fácil encontrar alguém que costurasse roupas masculinas. No final do mês de fevereiro até meados de março as alfaiatarias estavam apinhadas de tecidos para fardas escolares e era preciso prevenir. Não posso esconder a minha alegria de menino em razão da calça nova que eu iria exibir naquele semestre. Continue a leitura.

O mundo da industrialização, da produção em massa foi transformando o panorama e pouco a pouco a figura do alfaiate foi rareando. Era costume que menores aprendizes iniciassem a profissão em uma “tenda” de alfaiate. Com a fiscalização do Ministério do Trabalho, a proibição do trabalho do menor, com o que concordo plenamente, diminuiu a procura por esse tipo de aprendizado e muitos deixaram de aprender uma nova profissão.

Os alfaiates tiveram muito prestígio em nosso país, não é sem razão que tivemos na Bahia a revolução dos alfaiates, Conjuração Baiana, no século dezoito, em que vários alfaiates foram participantes do movimento libertário. Os tempos mudaram e os aqueles profissionais estão diminuindo numericamente a cada ano.

Aqui, em Vitória da Conquista, tivemos uma rua chamada “ Beco da Tesoura”, hoje, Alameda Lima Guerra, que tinha o seu nome original por conta dos alfaiates e barbeiros, profissionais da tesoura. Com o crescimento da cidade foram se espalhando pelas diversas ruas, sem perder o charme da profissão. Tivemos grandes profissionais que nos orientava com as revistas de moda masculina, informando qual era a última moda em blazer ou camisa.

Eu me lembro de alguns profissionais e dos seus nomes, apenas de alguns com quem mantive aproximação, certamente cometerei as injustiças que a memória, impiedosa, nos trai. Recordo de Antônio da Alfaiataria “Perenal Moda” situada na Praça da Bandeira. Era meu vizinho de prédio e a quem encomendei a costura de algumas camisas. Ele acompanhava a moda das camisas dos artistas da jovem guarda e costurava cada modelo com perfeição.

“ Seu” Edvaldo, a quem eu chamava de o filho de “ seu” Irênio, foi ele quem fez a maioria das minhas fardas escolares ao longo de vários anos, uma pessoa bondosa e de muita espiritualidade. Edmundo, que já passa dos oitenta, também costurou para mim. Temos Silvio, “ seu” João e “seu” Eufrásio. Todos ainda costuram, e ,vez por outra, lhes encomendo alguma peça.

O Poder Público e algumas entidades sócias oferecem curso para aprendizes de costureira, mas nunca para alfaiates. Penso que é tempo para reexaminar esta possibilidade e oferecer este campo de trabalho a quantos queiram aprender, retirando pessoas da ociosidade, criando novos profissionais e revitalizando uma tradição que aos poucos vai se extinguindo. 180116

 

 

 

 

 

 

 


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