Jorge Maia | Professor e Advogado | [email protected]
Eu era menino, não faz muito tempo, e fui levado por meu pai ao “circo” cujo único espetáculo era a transformação de uma jovem em perigoso gorila. O comercial do show era feito com estardalhaço. A moça chamava-se Jane, e por muito tempo fazíamos referência à macaca Jane, quando queríamos falar sobre aquela demonstração.Leia na íntegra.
O “circo” era pequeno, um compartimento coberto por uma lona e havia uma espécie de jaula onde a moça se apresentava em sua metamorfose. O local era na parte superior da Avenida Lauro de Freitas, em frente à residência da Família Feminella, o que torna mais fácil identificar o espaço geográfico para quem já passou dos quarenta.
O Show não demorava mais que dez minutos entre apresentação e finalização. O apresentador criava um clima de terror e medo, enfim, assustava de verdade. A transformação de Jane em gorila ia ocorrendo lentamente, mas em crescente ritmo, acompanhada pela voz do apresentador, o que me apavorava mais que as mudanças sofridas por Jane.
A macaca passou a ficar violenta, ameaçando a romper a grande e atacar a platéia, eu, meu pai e minha irmã. Em um gesto brusco quase abre a grade, e o locutor em seu desespero, dizia calma, Monga! Calma, Monga! Foi quando sai correndo apavorado, mas, agarrado por meu pai, voltei ao espetáculo e, lentamente, Monga voltou a ser Jane, uma moça de feições delicadas.
Meus alunos conhecem esta história e sempre uso a lição com eles quando estão agitados em sala de aula. Um pouco de humor e reconquisto a atenção da turma. Às vezes um dos alunos solta o bordão, calma, monga, pedindo silêncio.
Por ocasião da exposição agropecuária aqui em Conquista, o espetáculo se repete. Monga se apresenta e quando encontro alguns alunos eles dizem que se lembraram de mim. Pergunto se por conta de alguma lição, eles respondem que foi por causa de Monga. Só me resta sorrir.
A vida poderia ser mais simples, as pessoas poderiam ser mais cordatas e atender ao pedido de calma nos momentos de aflição, talvez as coisas se tornassem mais simples, mas, compreendo, não somos bichos.240116