Jorge Maia | Professor e Advogado | [email protected]
Eu era menino, e não faz muito tempo, ainda me lembro daquela tarde de temperatura amena. Esta estava nos braços de minha mãe e nos encontrávamos no quintal da nossa casa, próximos à porta da cozinha. O quintal era enorme, eu me recordo da sua imensidão, da porta que dava para a outra rua, das galinhas e das árvores frutíferas, mas eu estava triste naquele dia. Leia na íntegra.
Uma moleza no corpo, um olhar tristonho, abatido por algo que ninguém sabia diagnosticar. Alguém, sabiamente disse que poderia ser quebranto, dizia-se “ quebrante” e deveria ser mesmo. O quebranto é uma forma de perda de energia geralmente causado por olhos invejosos diante da beleza de alguém. Era o meu caso.
O tempo não foi ingrato e deixou permanecer traços daquela formosura capaz de provocar quebrantos. A minha humildade não permite que deixe isso sem revelar. A humanidade precisa saber disso e certamente ficará mais rica. Sim eu fui vítima de quebranto.
Se era quebranto, só haveria uma solução: convocar uma benzedeira, ou uma rezadeira, para quebrar aquele encanto que me alquebrava. Foi o que minha mãe fez. Ela chegou, brincou comigo e tentou me reanimar, o que não conseguiu, confirmando a opinião geral, era quebranto e preparou-se para o inicio do ritual.
De posse de algumas ramas, agitando-as próximo do meu corpo, falando palavras incompreensíveis para mim, fez as suas orações, os seus pedidos e aos poucos fui me reanimando, voltando a minha beleza natural, passando a brincar como se nada tivesse acontecido. Era a magia das benzedeiras e rezadeiras.
Sem antibióticos, ou outro produto químico, aquelas mulheres simples do sertão, sempre disponíveis, sem nada cobrar, sem marcar horário e sem juramento a Hipócrates, cumpriam um papel social no campo da saúde que faria o SUS morrer de inveja. Sem desvios de verbas e sem superioridade serviam de forma solidária a quantos delas precisavam. Ainda me lembro da sua face magra e do lenço na cabeça, suas palavras mágicas e do seu modo carinhoso de me tratar. O SUS poderia pensar nas benzedeiras e rezadeiras para os casos mais simples de depressão e similares. 130216