Jorge Maia | Professor e Advogado | [email protected]
Não compreendo a negativa das pessoas que afirmam que não possuem conta em banco da Suíça, apesar de todas as provas exibidas. Penso que eu me comportaria de modo diferente se isso acontecesse comigo, e fico imaginando como seria o meu comportamento diante da feliz acusação de que eu tenho uma conta em um banco da Suíça. Leia na íntegra.
O oficial de Justiça me chamaria à porta da minha casa intimando-me para uma audiência na qual deveria explicar a origem dos valores depositados em meu nome em banco suíço. Naquele momento exibiria um ar preocupado, testa franzida, faria caras e bocas de preocupação. Por dentro uma explosão de alegria, mesmo sem saber o que estava acontecendo, finalmente uma conta na Suíça em meu nome. Assinaria a intimação e solene diria: vou provar a minha inocência.
Em alegria incontida, chamaria a família e programaria uma viagem para a Europa, na primeira classe. Visitaria as concessionárias para conhecer os últimos modelos, substituiria meu velho Fox 2007. Mas era preciso cautela, passaria todos os dias antes da audiência planejando de que forma eu justificaria aquela conta, então desconhecida por mim, e mais, passaria a defender que a conta era minha, o dinheiro era meu.
Planejei as respostas diante do espelho. Lembrei-me de grandes artistas e decidi que deveria inspirar-me em Marlon Brando para responder com segurança, olhando nos olhos do Juiz. Daria à voz certa consistência da voz de Elvis, demonstrando firmeza no tom e nos argumentos. Na verdade eu não dormiria até a data da audiência.
Bom, quando chegasse o dia, ao ser perguntado como eu explicaria aquela conta, usando o meu direito da ampla defesa, responderia: a qual conta e a qual agência o Magistrado se referia. Lógico, eu não sabia de nada e queria saber a conta e o banco, para oportunamente sacar o meu dinheiro. O juiz teria que fazer referencia a tais informações.
Esclarecida a conta, chorando de alegria ao saber o valor, a conta e o banco, responderia com olhar compungido, sério, sem esconder uma furtiva lágrima, que aquela conta foi aberta por meus ex- alunos, mais de dez mil alunos em mais de trinta anos de magistério, os quais, agradecidos fizeram uma vaquinha ao longo de todos esses anos e mensalmente depositaram em meu nome, em gratidão, aqueles dez milhões de dólares em meu nome, em banco da Suíça, disse ainda, que o juiz poderia convocar todos aqueles ex-alunos e eles comprovariam a origem daquele meu dinheiro. 200216