Ezequiel Sena | Aposentado | [email protected]
Por que terceira idade? Penso que não há razão para o termo. Um eufemismo que nos dá a impressão de sucata, refugo, ultrapassado, obsoleto, daquilo que não serve mais. Prefiro ir direto ao ponto: velhice. Quando o substantivo da vida é o tempo, as rugas e os cabelos brancos nada mais são do que os sinais reveladores da teimosa vontade de continuar vivendo. Leia na íntegra.
E não foram poucos os filósofos que se debruçaram sobre o tema. Um dos mais notáveis, Marco Túlio Cícero (106–43 a.C.), pensador romano, considerado o símbolo da suprema oratória, em sua obra Saber Envelhecer, ele ilustra, com sutileza, o peso dos janeiros: “Todos os homens desejam avançar à velhice, mas, ao ficarem velhos, se lamentam. Eis aí então a consequência da estupidez”.
Em 2009, não me lembro bem a data, a Rede Globo fez uma matéria sobre idosos para o programa Fantástico. Na época, com 77 anos de idade, o ex-vice-presidente da República, José Alencar, lutava contra um câncer e foi ele o destaque da reportagem.
Fiquei admirado com a firmeza de suas palavras. Mesmo com o agravamento da enfermidade, ele não se deixava abater ou lamentar da doença.
O ponto alto da entrevista: Com essa idade, o senhor está preparado para mais uma cirurgia dentre tantas já feitas? Sorrindo, respondeu: “Deus só dá o que a gente merece, não tenho medo da morte e se tiver mais um dia de vida e depois me envergonhar dele, prefiro morrer”.
Mais adiante, contou: “Quando olhei para a equipe médica e senti os semblantes abatidos, fiz uma reunião e mostrei a eles que precisávamos vencer mais essa. Foi uma injeção de ânimo para que executassem o trabalho com êxito. Ainda fiz questão de assinar um documento isentando-os, caso alguma coisa desse errado”.
Sinceramente, eu não o conhecia como homem de tanta fé. Sabia apenas das suas qualidades enquanto político e do grande empresário que era. Enxerguei nele não apenas um velho, mas um jovem de virtudes e pensamentos. Um líder nato!
São lições assim que, a cada dia, fico mais convencido de que o espírito não se deteriora; ao contrário, evolui e enaltece a pessoa humana. Certamente era o que acontecia com o cidadão José Alencar Gomes da Silva (1931-2011).
Achei oportuno incluir algo sobre o ex-vice-presidente da República, pela longeva idade e ilustrar melhor o texto. Mesmo porque, existe uma ideia ambígua do Estado brasileiro em relação aos idosos, que, em algumas situações, eles são protegidos e noutras culpados de gerar os males dos sistemas públicos de saúde e da seguridade social.
Estigmas desse tipo só ajudam a cunhar interpretações vis. Parece até que os velhos são todos doentes, pobres, de baixa escolaridade e dependentes. A longevidade ao invés de ser considerada uma conquista, infelizmente, criou-se uma visão ofuscada de provocar rombo, ou melhor, de se transformar peso morto da Nação.
Óbvio que não se podem fechar os olhos para a gravidade do ‘buraco negro’ que, há décadas, se acumula na seguridade, por erros, desvios e má gestão de governantes esbanjadores. Por isso, honrar o pagamento das aposentadorias no Brasil está ficando a cada dia muito difícil.
Alguns críticos preveem que, em razão de os brasileiros estarem vivendo mais, a reforma da Previdência deve figurar entre as necessidades de extrema urgência do País. Com isso, não restam dúvidas de que alguns direitos serão subtraídos. A proposta de igualar as idades de homens e mulheres para 65 anos, para ter acesso ao benefício, é uma dentre tantas em discussão.
Ainda assim, creio que não passam de meras ações paliativas que carecem de debate mais amplo com a sociedade. Entendo, contudo, que hoje em dia “amarrar as chuteiras” não é mais um prêmio como no passado. Na verdade, é um terrível suplicio!
Para não me alongar tanto, quero deixar para sua reflexão, caro leitor, a advertência da escritora Simone de Beauvoir, (1908-1986), pensadora de extensa obra, que resumiu muito bem os críticos à velhice: “Terrível não é a morte, mas a velhice e seu cortejo de injustiças”.