Jorge Maia | Professor e Advogado | [email protected]
Beócia 30 de fevereiro de um ano qualquer
Querido Jorge Maia, inicialmente quero registrar o seu silêncio em relação às nossas cartas. Você não responde, não vem mais à Beócia e nem fala mais do nosso país. Ás vezes fico pensando, qual a sua opinião sobre a minha paixão desvairada por seu amigo? Acho que você o protege e não opina sobre as minhas expectativas por que não quer confusão para o seu lado, mas você sabe que ele não tem sido legal comigo e foi morar na Noruega, como se isso me impedisse de cultivar o meu romance platônico. Leia na íntegra.
Sabe? Venho acompanhando os acontecimentos políticos do Brasil e confesso que a Beócia está preocupada, afinal, somos países amigos e tudo que acontece aí reflete muito na Beócia, que tem no Brasil um exemplo de um país sempre do futuro. Para compreender melhor a situação resolvi estudar um pouco de Português, mas é bem difícil, porém sou insistente e leio os jornais brasileiros, os quais sempre chegam com dois dias de atraso, mas vendem bastante e tenho que pedir ao jornaleiro para eu guarde um exemplar para mim.
Algumas palavras ou expressões são intraduzíveis para o Beocês, creio que em uma conversa pessoal, talvez você me explicasse melhor os seus significados. Uma dessas expressões é: repudio veementemente. Em todas as entrevistas os acusados de participação nos crimes que são apurados por aí, respondem que repudiam veementemente. Não consigo entender o que significa.
Os presidentes da Câmara e de Senado repudiam veementemente, a presidente repudia veementemente, o ex- presidente repudia veementemente, o candidato que perdeu a eleição repudia veementemente, afinal, parece que tal expressão significa um salvo conduto, pois até agora todos que repudiam veementemente não sofreu qualquer tipo de pena.
Meu professor de Português acha que aquela expressão pode ser traduzida como sendo: aquilo que eu fiz está certo e farei outras vezes se preciso for. Não me satisfaz a tradução e espero compreendê-la um dia.
Assim vou passando os meus dias na Beócia. As vezes assisto a uns filmes noruegueses, que são bons, por exemplo, gostei muito de “A Caça”. Sempre faço isso para matar a saudade. Mas não era isso que eu queria dizer, há uma expressão da língua Portuguesa em que eu e o meu grupo de estudos não conseguimos imaginar o significado, saiu na imprensa fala e escrita e não conseguimos associar a nada. O que é mesmo mulher do grelo duro? Quem sabe, na sua vinda a Beócia você me explica.
Um abraço, destas doces terras da Beócia. Maria Periguete. 200316