Valdir Barbosa: Perguntar não ofende

Foto: BLOG DO ANDERSON
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Valdir Barbosa | Delegado de Polícia | [email protected]
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O Brasil, como de resto grande parte do mundo assiste discussões, repetidas e exaustivas, desde quando foram divulgados áudios revelando conversas de importantes personagens do cenário nacional, em face de escutas autorizadas pelo Juiz Sergio Moro, fruto das investigações que apuram circunstancias do maior escândalo de corrupção envolvendo políticos e empresários registrado na historia do país, tratando sobre a propriedade das medidas. Leia na íntegra.

Os monitorados, representantes da situação e oposição, juristas e estudiosos do tema tornaram o assunto corrente em todos os cantos do país, dos mais altos aos mais simples palcos da nação, tudo reverberado por manhãs, tardes e noites, através diversos organismos de imprensa nacionais e até internacionais, maximizadas as noticias na esteira infindável das redes sociais.
Cuidam descontentes de desqualificar medidas que capturaram conversas, inclusive travadas pela Mandatária da Republica e seu antecessor, taxando-as de ilegais, enquanto divergentes entendem ter cunho eminentemente justo, as ordens que fizeram “grampear” ditas chamadas, assim como a autorização de torná-las públicas. Incluo-me no rol destes últimos.
Preliminarmente, cabe considerar, seja lá quem for, ao ligar para alguém sem foro privilegiado, alvo de investigação, assume o risco de ter suas conversas gravadas, da forma como ocorreu, aliás, vale lembrar, nenhuma providência idêntica objetiva ouvir monólogos. Escutas autorizadas pretendem trazer provas aos autos das averiguações pertinentes, diálogos travados entre interlocutores, capazes de iluminar labores investigativos.
Afora isto, não havendo divulgação de trechos onde seja exposta a intimidade dos censurados, nada impede que tudo seja tornado público. Aliás, num momento em que a população inteira precisa saber pormenores sem reservas, a fim de que decisões, tanto dos que pertencem as camadas mais plurais da sociedade, tecido que compõe a pátria, como daqueles a quem caberá o dever de julgar em últimas instâncias, é imponderável que se tente esconder verdades.
Porém, creio inócua a repetida discussão, acerca da legalidade ou não das escutas e suas respectivas exposições. Aos homens de boa vontade, mesmo estando em lados opostos, tão somente por força de suas convicções, ao contrário de diversos outros que debatem trepados em interesses menores, importa apenas definir posições e elas já estão postas.
Todavia, me permito perguntar a todos os cidadãos dignos desta nação, independente das convicções pessoais que tendem para um ou para outro lado: mesmo na hipótese de que tenham sido ilegais as providências comentadas – repito, tese com a qual não comungo -, qual o impacto das revelações insculpidas nas palavras irrefutáveis, para o Brasil e o mundo?
A forma desrespeitosa de tratar com a coisa pública e autoridades constituídas, a forma chula de expressão – “leia-se onde estão as mulheres de g… duro” -, mesmo na informalidade das consideradas estrelas, vermelhas ou não, mas que fazem corar até frades de pedra (saudades deFrança Teixeira) revela estofo moral de quem quer continuar representando um País tão grandioso como nosso, onde nós, nossos filhos e netos queremos viver sobre a égide de bons exemplos?
À Pátria interessa mais julgar o julgador, que no pensar dos discordantes foi equivocado ao decidir como decidiu, mas, certo ou errado fez revelar bastidores onde a prepotência, o desrespeito a ética e a moralidade, o ataque as autoridades constituídas, pelo simples fato de poder decidir contrariamente aos seus desejos, se revelou a tônica?
Interessa ao coletivo, o equívoco do Magistrado, sobre o qual não concordo, ou a verdade putrefataque emergiu?
Dizem que perguntar não ofende.
valdir barbosa
Delegado de Polícia, ex-Delegado Geral da Bahia.

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