Cláudio Carvalho e Alexandre Xandó | Ativistas Sociais | [email protected]
Enfim, após um tumultuado processo, ontem foi chancelado o impeachment da Presidenta Dilma. Apesar de ainda um prazo de 180 dias para finalizar a lide, a votação com 55 votos favoráveis já demarca que os 2/3 dos votos necessários na próxima votação serão alcançados. Contudo, apesar dos rojões que ecoaram por algum tempo, não se viu nenhum grande ato em comemoração à queda do governo. Onde estão os milhões de pessoas que foram às ruas no dia 13 de março? Porque as redes sociais ficaram tão amenas, e os vencedores desta batalha não tiraram o dia para festejar? Porque não houve mudanças de fotos no perfil do facebook com o apoio ao novo Presidente? O dia foi de silêncio, o silêncio dos inocentes políticos.
Há exatos 2 meses os setores contra Dilma não saíram mais às ruas, enquanto que os movimentos contra o golpe se mantiveram em luta, realizando atos de artistas, intelectuais, juristas, trancando BR’s e realizando escrachos nas casas dos deputados e senadores golpistas. Mas porque o “lado vitorioso” se colocou numa posição de recuo? Se formos analisar a fundo, havia e ainda há predisposição por parte destes segmentos de irem às ruas, contudo os movimentos MBL, VPR e R.O., que sempre convocaram os atos, repentinamente brecaram. Na verdade, esses ditos movimentos não passam de marionetes dos partidos de direita, e sabem que se o povo continuasse nas ruas eles poderiam perder o controle da situação e por em risco o futuro governo. Leia na íntegra.
Além disso, uma parcela significativa que foi às ruas cantar o hino nacional percebeu, a partir do show de horrores da votação da Câmara, que não poderia sair coisa boa dali. Ontem, com a nomeação dos notáveis corruptos ao Ministério de Temer, ficou claro que não há o que se comemorar, mas sim o que se temer. O único ministério sem mulheres desde a ditadura; um Ministro da Educação do partido contra as cotas e contra o PROUNI; um Ministro da Justiça que reprimiu com bombas as ocupações estudantis em São Paulo, mas faz negociatas cotidianas com o PCC; um Ministro do Trabalho que é favorável às terceirizações; um Presidente ilegítimo, corrupto, e com 95% de reprovação popular.
Deste modo, ontem e hoje foram o dia foi do silêncio dos inocentes políticos. O dia daqueles que por inocência foram às ruas achando que haveria uma escalada de luta contra a corrupção; achando que haveria uma grande renovação na política e que o Brasil iria melhorar da noite para o dia. Além destes, foi o dia dos “políticos inocentes”. Aqueles corruptos assumidos, que convocaram e financiaram os atos, e que até foram às ruas lutar contra a corrupção (do PT), para hoje serem coroados com cargos e ministérios. Houve ainda os esquerdistas que negaram e negam até hoje que houve um golpe contra nossa democracia. Estes, do PSTU, PCB e outros agrupamentos, que apostam na lógica do quanto pior melhor, não tem nada de inocência, mas sim de oportunismo.
Todavia, a história tem mais de um lado. Ontem também foi o dia dos que encamparam as trincheiras da resistência; o dia dos escrachos nos diretórios do PMDB em todo o Brasil; o dia dos 35 mil na Avenida Paulista denunciando o golpismo; o dia que não anoitecerá. Estes setores prometem não dar trégua ao novo governo, e já anunciam que vão ocupar permanentemente as praças, universidades e escolas.
O pacto democrático do Brasil se rompeu e é necessária uma reconstrução. Essa caminhada tem que se dar de baixo pra cima, alterando as estrutura do sistema como um todo. Não basta alterar as peças do xadrez, é preciso modificar as regras do jogo. Assim, abre-se mais uma vez a janela de luta por uma Constituinte Exclusiva para se reformar o sistema político. Enquanto as raposas forem as donas do galinheiro o povo continuará sem um horizonte de esperança e a história dos inocentes políticos se repetirá.
* Ambos são advogados populares e militantes da Consulta Popular.