Edwaldo Alves Silva | Sociólogo | [email protected]
O Senado Federal coonestou a decisão da Câmara dos Deputados de aprovar a admissibilidade do impedimento da presidenta Dilma, por 55 votos. Era o esperado. Não há praticamente diferenças entre uma casa e a outra. Ambas expressam um sistema político institucional direcionado para manter a estrutura econômica e social atual, visando, acima de tudo, conservar e ampliar os privilégios da elite dominante brasileira. >>>
Com a decisão da maioria dos senadores o golpe palaciano alcançou um novo patamar. A presidenta eleita é sumariamente afastada do cargo por até por 180 dias, e no seu lugar assume, por esse período, a figura sinistra e velhaca de Michel Temer. O presidente usurpador executou o mesmo tipo de pedaladas e assinou um número maior de decretos de remanejamento orçamentário, atos que serviram de pretexto para afastar a presidenta eleita. Mas, no caso dele não importa, a sua ambição desmedida foi utilizada para anular o resultado eleitoral de 2014. Resta saber se também terá o destino de seu comparsa, Eduardo Cunha, que após fazer o trabalho sujo está sendo descartado como bagaço de laranja chupada.
Ao apoderar-se do cargo, o presidente ilegítimo mostrou a que veio. Montou um ministério com velhos políticos desmoralizados, muitos indiciados na operação Lava Jato e que, até ontem, participavam do governo anterior. O início do governo Temer está completamente desorientado. O Ministro da Justiça declara mudança nas regras para escolha do Procurador Geral da República e é desautorizado publicamente pelo presidente em exercício. O Ministro da Fazenda propugna pelo retorno da CPMF e recebe um não do Ministro Secretário de Governo. O Ministro do Desenvolvimento Social e Agrário informa que pretende reduzir os recursos para o Programa Bolsa Família em 10%, a partir do que ele chama de recadastramento. O Ministro da Fazenda informa que a sua perspectiva é que o nível de desemprego logo atingirá 14.0%, aumento em praticamente 50% do número atual. Tal índice será facilmente atingido com a proposta de redução da idade para a aposentadoria, uma das poucas teses que é unânime na equipe temeriana. Claro, que reduzir a idade mínima das aposentadorias é um enorme incentivo ao aumento do desemprego. O Ministro da Educação recebeu alegremente a decisão de Temer de extinguir o ministério da Cultura e sua incorporação à Educação. O infeliz ministro certamente não sabe a diferença entre educação e cultura. Mas, vai aprender com a enérgica reação dos artistas, intelectuais e criadores da cultura brasileira. O Ministro das Relações Exteriores, por simples demagogia e carreirismo, escandalizou o mundo diplomático ao explodir relações econômicas, culturais e políticas construídas ao longo dos últimos anos com inúmeros países. Se alguém não barrar as atrapalhadas dessa figura, veremos ameaçadas às sólidas e importantes relações do Brasil com o BRICS. Os eternos neoliberais de sempre, comandados pelo PSDB, saudaram entusiasticamente “a criação de um programa com vistas a catapultar a agenda de privatizações, concessões e parcerias público privadas”, Surpreendentemente, após fracassar no mundo inteiro o neoliberalismo renasce amparado no retrocesso brasileiro. Para vender, a preço de banana, ao capital internacional restam apenas o Banco do Brasil, a Caixa Econômica e a Petrobrás.
Mas, tudo isso já era esperado. Eles querem voltar ao passado e reverter os avanços sociais, democráticos e institucionais dos últimos anos. O povo brasileiro, mesmo com boa parte, enganada pela mídia e por esse Congresso desmoralizado, e, ainda, acreditando que o processo de impeachment era parte integrante do combate à corrupção, não aceitará passivamente o desrespeito à vontade popular expressada nas urnas. As classes dominantes brasileiras locupletaram-se durante cinco séculos da riqueza criada pelo trabalho do nosso povo. E mesmo assim não aceitaram as mudanças promovidas nos últimos anos, inclusive, sem ter seus lucros escandalosos ameaçados em nenhum momento. Reagiram com o golpe mascarado de impeachment, tentam confundir a opinião pública e escapar ilesos da apuração total dos escândalos de corrupção. Os cargos públicos tornaram-se moedas de troca e favores. Não surpreende ninguém que, na Bahia, os distribuidores de cargos serão Benito Gama e Geddel Vieira Lima.
Nos próximos seis meses Temer e sua malta de golpistas, tentarão reverter os avanços democráticos e políticas sociais dos últimos anos. Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, PRONATEC, Água e Luz Para Todos, Programa Mais Médicos, PRONAF, Ciência Sem Fronteira, Valorização do Salário Mínimo, e tantos outros que começaram a construir um novo Brasil.
Os movimentos sociais e populares, os partidos democráticos e populares, a intelectualidade, a juventude e todos patriotas não permitirão que retorne o domínio absoluto do grande capital financeiro sobre o nosso povo. As ruas, os sindicatos, as associações, as organizações estudantis e os brasileiros e brasileiras gritaram bem alto: Fora Temer! Democracia Sempre!
Edwaldo Alves Silva é filiado ao PT.