Jorge Maia | Professor e Advogado | [email protected]
Eu era menino, e não faz muito tempo, e guardo na memória algumas histórias que ouvi do meu pai. Uma dessas histórias ocorreu no seu tempo de menino. Meu pai nasceu em 1923 e faleceu aos noventa e dois anos de idade. Considerando a sua idade escolar suponho que o fato ocorreu ente 1933 e 1935. As crianças, naquela época, entrevam para a escola bem mais tarde, daí a minha justificativa quanto ao ano. Leia na íntegra. >>>>
Bem estamos falando de uma escola primária, em Aracatu. A professora veio de Caetité, centro educacional de todo o sertão, e de onde saíram grandes nomes da educação e da política nacional. Fico imaginar de quem foi a ideia de criar uma escola em Aracatu, na década de 30 do século vinte, mas afirmo que foi uma iniciativa das mais brilhantes.
Pois é, aquele hábito de ir ao banheiro, conhecido como “licença” vem daqueles tempos. Levantar o braço para chamar a atenção da professora e pedir licença. Foi o que ocorreu com Gerôncio, o qual foi autorizado a ir até o banheiro que ficava fora do prédio escolar.
Gerôncio demorou de voltar, e quando retornou encontrou a professora a qual se estava na porta da sala conversando com alguém. Gerôncio passou entre a professora e a outra pessoa sem nada dizer, passou de lado, pois foi a forma que encontrou para cruzar aquela passagem, tudo sob o olhar severa da professora.
Ao terminar a sua passagem, Gerôncio foi chamado pela professora que indagou qual era o modo era correto de passar entre duas pessoas que estava conversando. Sem pensar duas vezes o nosso personagem respondeu assim: de banda.
Pobre Gerôncio, era um menino da zona rural e não tinha noção da complexidade das normas de etiqueta que lhe exigia apenas pedir licença, aquela mesma licença que ele pedira para ir ao banheiro. Mas justificou-se de modo convincente que o correto era passar de banda.
Ainda hoje, eu me lembro desse fato contado entre risos e brincadeiras e o conto para os meus filhos. Faço lembrar que Gerôncio era um menino simples, mas que fez escola. Não são raros os que não pedem licença. Os que interrompem as conversas, aqueles não pedem desculpas pelos atropelos que causam. Não estamos na década de trinta do século vinte, mas sim em um tempo em que a sociedade conquistou grandes privilégios tecnológicos e muita informação, mas sem a inocência de Gerôncio Parece que as pessoas não sabem pedir licença e nem desculpas, andam muito apressadas e não têm tempo para isto. 220516.