Marco Antônio Jardim | Publicitário | [email protected]
Queridos, estou partindo. Mas vou mandar notícias do novo mundo de lá, aquelas terras alheias que persevero em conquistar. Aos que ficam, deixo um abraço forte, cantinhos de memórias, um sorriso largo e um afeto sem princípio nem fim. Não tenho nenhum gosto em partir, mas carrego caixas de folhas de flandres e recordações de mim. >>>>>
Aos espíritos empoeirados do closet, meus sussurros e meus sapatos.
A quem deitou em minha cama, meu faro, meu perfume e aqueles fatos.
A quem folheou livros em minha escrivaninha, deixo fotografias e páginas em branco.
Aos que sentaram no canapé estofado, um fim de tarde, um acalanto.
Aos que se debruçaram no parapeito da larga janela, os sopros do horizonte.
Aos que acenaram dos ladrilhos da rua, um som.
Aos que afagaram o pelo alvo do meu gato persa, faço um ronrom.
Aos que subiram os degraus todos das escadas, não tenho planos.
Aos que notaram os traços de luz do sol sobre a parede e a sombra do filtro dos sonhos, todo o vai e vem dos que sentaram à mesa em oração.
E mesmo aos que só sonharam, outra emoção.
E a vida segue pela estação aos que pediram de beber.
Aos que cozeram no forno um amanhecer.
Aos que provaram do pão, dos biscoitos, da torta de limão e brigadeiros.
Aos nobres, amáveis companheiros, e às rodas de violão.
Aos que vieram e não regressarão mais.
E também aos que volveram sem olhar pra trás.
Aos que banharam o rosto na pia sem tempo algum para supor.
Aos que fitaram o espelho do corredor.
Ou viram estrelas caindo da janela lateral.
Aos que avistaram o venerável céu noturno, um sinal de glória e meu eterno amor.
Aos hóspedes do quarto dos fundos, esses encontros e despedidas.
Ao farfalhar do grande porte da mangueira no quintal, esta partida.
E aos genuínos abraços do meu padrasto, a generosa alegria da minha mãe.
Tão naturais as estações da vida dos que recebi aqui neste lugar.
Aos que recostaram na ardósia da entrada da casa, a vida dos dias que seguem até o mar.
Aos que desejaram vir, minha hora de partir.
Marco Antonio Jardim
(inspirado na canção “Encontros e Despedidas”, de Milton)
2 Respostas para “Marco Antônio Jardim: Estou partindo…”
Edimilson Santos Silva Movér
SE É QUE VAIS PARTIR… ENTÃO!
Os poetas se transubstanciam em quase tudo…
O exemplo maior está nesta noticia dada pelo próprio:
MARCO ANTÔNIO JARDIM:
ESTOU PARTINDO…
Que partas! Mas, deixais a certeza,
De que parte um grande publicitário com vós!
Não sabemos para onde vais!
Talvez nem vós saibais…
Dizes que: – “Não tenho nenhum gosto em partir, mas carrego caixas de folhas de flandres e recordações de mim”.
A tua falta entristece a todos nós! Os poetas.
Não tive a honra de vo-los conhecer
Cabe-me por direito humilde espaço lá no beco
Os poetas serão sempre desconhecidos
Nunca saberemos o que se passa na cabeça dos poetas
Todos estão sujeitos aos erros e acertos do coração.
Nietzsche errou ao dizer que os poetas são mentirosos
Os poetas são sonhadores, sonham com impercebíveis e infinitos amores,
Os poetas amam o tudo e o nada,
Amam o farfalhar da grande mangueira do quintal.
Que saibam quantos desta partida, perpetrar que a cidade perde um poeta…
E também:
“Aos que “SENTARAM” no canapé estofado, um fim de tarde, um acalanto”.
Não sois somente um publicitário, mas, também por natureza um poeta.
Dizes taxativamente: que sois de uma única linha, a linha das frases inefáveis…
Ainda dizes que:
Aos que notaram os traços de luz do sol sobre a parede e a sombra do filtro dos sonhos, todo o “VAI E VEM” dos que “SENTARAM” à mesa em oração.
Só é grande quem se faz lembrado.
Tiveste a nobreza de se lembrar dos espíritos empoeirados:
Nem eles se esquecerão de vós.
“Aos espíritos empoeirados do closet, meus sussurros e meus sapatos”.
Não estais partindo! Estais ficando para sempre no coração de Conquista.
SENÃO! FICO COM OS ESPÍTOS EMPOEIRADOS, LÁ NUM CANTO…
Edimilson Santos Silva Movér
Vitória da Conquista
26/05/2016
Teo
Tchau