Jorge Maia | Professor e Advogado | [email protected]
Parece que estamos cada vez mais anatomicamente imperfeitos, Temos orelhas, mas não temos ouvidos. Ouvimos cada vez menos, pois nos dedicamos a falar todo o tempo. O mais grave é que todos nós queremos falar ao mesmo tempo. Ninguém ouve ninguém. Mesmo nos momentos em que não falamos, não ouvimos a outra pessoa. Há também aqueles que falam com várias pessoas ao mesmo tempo: falam com as pessoas presentes, com alguém ao telefone, fala pelo whats app e ainda responde a um e-mail e todos acham que está tudo bem. >>>>>
Considerando que ninguém ouve ninguém, há uma considerável quantidade de erros a serem reparados no final do dia, tudo isso porque as pessoas já não conseguem fazer uma coisa de cada vez, ou falar sobre apenas um assunto.
Na era das redes sociais, é a necessidade de se expor todo o tempo que faz com que as pessoas se lancem cegamente naquelas redes em que embalam um sonho de menos de quinze minutos, aguardando uma resposta que será um adjetivo desprovido de sinceridade, ou quem sabe de uma fila de kkkkkk, ou Rsrsrsrsrsrrs que embala muito rapidamente uma felicidade fugaz e insignificante.
Uma antiga canção de Adelino Moreira, cantada por Nelson Gonçalves, fala sobre um momento de amor de um casal, mas destaca a possibilidade de um ouvir ao outro, como sendo um componente significativo para a felicidade e completude do amor: Tu ouvirás o que eu digo/ Eu ouvirei o que dizes/ Fica comigo esta noite/ Então seremos felizes.
Para o poeta não é suficiente ficar. É preciso ser ouvido e ouvir. O mundo está se movendo muito depressa. O tempo é matéria que não podemos repor, talvez a única, e o usamos de forma estúpida, pois não nos dedicamos a ouvir o outro, queremos apenas falar, como se a nossa fala fosse a coisa mais importante do mundo e apenas nós temos o que falar. Queremos ser ouvidos, mas negamos aos demais o direito de falar.
Não sei como tudo isto vai acabar, mas não quero ficar prisioneiro em uma torre de babel, onde todos falam, ninguém ouve ninguém e nem sabe o que outro esta falando. Na verdade, uma coisa boa na vida é um bom papo, para isto é preciso ouvir e ser ouvido. 300516
Uma Resposta para “Jorge Maia: Tu ouvirás o que eu digo…”
André
Realmente, Caro Dr. Jorge, muito interessante o artigo. É a realidade de um mundo instantâneo ; o sociólogo Zygmunt Bauman é pródigo neste conteúdo nas obras em Modernidade Líquida ou em Vida Liquida.