Jeremias Macário: Uma chama que se apaga!

Foto: BLOG DO ANDERSON
Foto: BLOG DO ANDERSON

Jeremias Macário | Jornalista | [email protected]

Não aguento mais ver imagens do roteiro da tocha olímpica cercada por viaturas da polícia, um aparato de soldados motoqueiros e seguranças trotando de calças curtas de cor marrom e óculos escuros! O repórter aparece com cara de paisagem anunciando a passagem da chama com aqueles chavões de sempre sobre pátria e cidadania como nas épocas de eleições. Aqui fico pensando como me fazem de besta e idiota num país que me tira o máximo e me dá o mínimo de educação, saúde, saneamento e segurança. >>>>>

Lá fora nas calçadas, ruas e quarteirões se estendem as filas de mais de 11 milhões de desempregados nas portas das empresas. Outros milhões de crianças, idosos e mulheres grávidas passaram dias e noites se humilhando nos postos de saúde pela vacina H1N1 contra a gripe que não deu para todos. Mais uma chama de esperança se apagou ali naquelas torturantes filas para centenas de brasileiros.

A inflação corrói os intestinos das pessoas mais pobres e nos portões e corredores dos hospitais se ouve choros e sussurros angustiantes de pacientes crianças, mulheres, idosos e de seus parentes por falta de atendimento médico. Cada um engole a sua dor como pode e sente lá no fundo da alma o fogo da esperança se apagar. As cenas de terror se repetem todos os dias como se essa gente vivesse em campos de concentração.

No sol, na chuva, no frio, na água, por entre morros, montanhas, praças e arranha-céus, a chama das olimpíadas não se apaga. Lá fora nas metrópoles, rincões distantes e nos locais mais pacatos, os bandidos assaltantes atiram nos cidadãos desprotegidos para roubar um celular, um tênis, o dinheiro no bolso, sua casa ou sua loja comercial. O vento dos malfeitores chicoteia em nossos lombos e zune forte como furacão, roubando a esperança de se viver num Brasil melhor.
As multidões eufóricas gritam e abrem espaços aos empurrões para tocar na tocha e tirar uma foto, como fãs histéricas por seus ídolos de plástico e de metais enferrujados. A “heroína” é recebida com festas e shows, discursos hipócritas e aplausos. Nas cidades, vilas, povoados e nos grotões mais carentes de tudo, as escolas de taipa não têm telhado e as carteiras estão quebradas. Os alunos tentam arranhar seus nomes nos papéis sujos, enquanto o professor risca alguma coisa na lousa. Com o método arcaico e enfadonho, cada um faz de conta que cumpre com seu dever cívico.

Nos escritórios, gabinetes luxuosos e nas plenárias legislativas de ar condicionado com poltronas acolchoadas, os homens almofadinhas de palavras medidas tramam como assaltar a merenda escolar, os remédios e como desviar o dinheiro das refinarias, das hidrelétricas, das sondas de petróleo e das obras dos programas sociais. Faltam recursos para se fazer justiça, e o morador de rua cata uma migalha no lixo para matar a fome, enquanto a chama passa faceira e deslumbrante fazendo seu roteiro para os idólatras.

Por onde ela percorre, o mosquito da dengue, da chikukunha e da zica prolifera porque o dinheiro para o combate, a pesquisa e a prevenção é curto. As mães da microcefalia com seus bebês mirrados no colo derramam suas últimas lágrimas porque perderam a chama da esperança de terem seus filhos normais e saudáveis como planejavam.

Lá se foi mais uma esperança! A mídia, que tem o poder da coação, e os moços do governo nos ensinam uma lição mentirosa da prevenção da saúde quando os exames e os diagnósticos da doença tardam a chegar ou só chegam depois da morte do paciente que passou toda sua vida sem entender que cidadania é essa que os mandatários da pátria lhe prometeram.

Enquanto os puxadores da tocha fazem algazarras e barulhos com suas danças festivas e exóticas, os bons se mantêm em silêncio sepulcral aceitando as desgraças humanas como lei natural dos fortes que estrangulam os fracos. Lá vai a chama glorificada por um povo que ainda acredita nessas glórias artificiais que se perdem no nevoeiro.


2 Respostas para “Jeremias Macário: Uma chama que se apaga!”

  1. claudio

    Certamente caro Sr Macário , ainda assim uns bocados de cidadãos se perfilam a bater palmas para esta palhaçada que os políticos e a mídia em busca de milhões insistem em mostrar como somos ”facilmente ” atochadosssssssssssssssssssssss

  2. ataide pinto

    Sou baiano de Conquista, no Ribeirão hoje barragem de Anagé – eu e meu pai e mãe Dionisio Pinto e Ana Generosa estivemos aí em 1964,eles já faleceram e eu vivo em São Paulo. Aos brasileiros não se esquecerem. Quando o ATOr dos Estados Unidos esteve aqui no rio de janeiro Brasil, ele disse que nós brasileiros parecíamos macaquinhos seguindo banana. Não esqueçam…..aquele do paninho na cabeça – quem ??? …o RAMBo.Isso mesmo, o RAMBo. Eu não assisto mais nenhum filminho com o dito cujo. Abraços aos meus parentes, aos amigos e todos os brasileiros – de Ataíde. Até a próxima.

Os comentários estão fechados.