Jorge Maia: Se se pudesse

Jorge Maia | Professor e Advogado | [email protected]

Em minhas rápidas passagens pelo face book tenho encontrado um mundo de fantasia e exuberante alegria. As mensagens de grandeza e sucesso nos transportam para um mundo diferente do nosso cotidiano. Parece a verdadeira morada da felicidade. É tanto encanto e beleza que temos a impressão da reprodução do Éden  antes do pecado original. >>>>>>

Algumas pessoas demonstram tanta felicidade e possuem tantos amigos que chego a pensar que não sei compreender o que está acontecendo. Um mundo em que os conflitos se avolumam, a violência se faz presente a cada instante e o Estado despreparado, governado por uma gente atrasada, surpreende–me tanta felicidade.

Passei a refletir sobre esta situação e a examinar a situação de alguns felizes do face book. Ao manter contato com alguns concluí, e me foi confessado por outros, os graves problemas que estão a viver e que o face é apenas um refúgio, uma espécie de máscara que ajuda a enfrentar o dia a dia.

Felicidade não é algo para ser fingido, mas sim, para ser vivido, com exuberância, mas com modéstia. Viver cada instante com a certeza de que não vai faltar coragem para seguir adiante e aproveitar os intervalos para sorrir e viver.

Eu me lembro de uns versos de Raimundo Correia, no poema “Mal Secreto” e que me fez refletir sobre esta realidade. Esta necessidade de parecer aos outros que somos felizes, como se nos interessasse fazer inveja por algo que não temos.

Os versos são estes: Se se pudesse o espírito que chora/Ver através da máscara da face,/Quanta gente talvez que inveja agora/Nos causa, então piedade nos causasse!

Por que não ser feliz de verdade? Sem máscara e sem enganos, enfrentando a vida com realismo, ter amizades presenciais e deixar as fantasia apenas para os espetáculos e emoções estéticas?

A realidade pode ser cruel, mas é definitiva nas definições dos fatos e caminhos a seguir. Como dizer para os meus alunos que a vida é bela e a fila anda. Em frente. 240716