Jorge Maia | Professor e Advogado | [email protected]
Eu era menino, e não faz muito tempo, e ouvia os adultos afirmarem que no Brasil ninguém renuncia a nada, todos querem ficar nos cargos para sempre. Recordo dos comentários sobre a renúncia de Jânio Quadros. Os seus partidários elogiavam a sua honestidade e que era admirável o seu gesto, pois em um país em que pessoa alguma renuncia se quer à condição de inspetor de quarteirão, era algo merecedor de reconhecimento de honestidade. >>>>>>
Naquela época eu não sabia o que era inspetor de quarteirão, bem, até hoje eu não sei do que se trata, mas suponho que seja um cargo pouco remunerado. Confesso que nunca vi um inspetor de quarteirão. Suponho que seja uma dessas profissões extintas por conta da revolução industrial.
Depois de algum tempo percebi o que queriam dizer. No Brasil ninguém renuncia a nada, em especial se houver algum valor em jogo. Esse entendimento decorre da afirmação de algumas pessoas que no exercício do cargo, passando por conflitos de natureza política, sofrendo o maior desgaste em sua moralidade e na sua paz familiar, permanecem irredutíveis no seu exercício a custo do sacrifício da ética e do povo.
É muito comum ouvir dessa gente: Presidente de Câmara, Presidente da Republica, deputado, vereadores e outros que tais, a palavra renuncia não existe em seu dicionário. Pensando bem, só podemos concluir que os seus dicionários são incompletos, e não são de nenhuma editora nacional. O Aurélio e o Houaiss os quais sempre consulto, e são frutos de muita pesquisa, trazem de modo muito claro o significado do verbo renunciar.
A renúncia é algo que aprendemos desde cedo. Na vida é sempre preciso renunciar a alguma coisa, sob pena da vida tornar-se insuportável. Até mesmo no direito existe a previsão da renúncia. Dizer que existem direitos irrenunciáveis é apenas uma forma de garantir o prolongar do tempo para colocar em pratica o seu exercício. Quem pode me obrigar a fazer uso de um direito que eu não quero exercer?
O Cardeal Ratzinger, Bento XVI, homem ultraconservador, mas respeitado por sua cultura e fidelidade aos seus princípios, renunciou ao seu cargo de Papa. Privilégio no tratamento recebido, viagens por todo o mundo, Chefe de Estado e recebido como tal, não pensou duas vezes quando percebeu que não tinha condições para continuar à frente do Vaticano. Um gesto de grandeza que precisa ser imitado por todos aqueles que se acham insubstituíveis. 070816
Uma Resposta para “Jorge Maia: Dicionário incompleto”
Ezequiel Sena
Bem precisa a reflexão.