Jeremias Macário e Carlos Gonzalez | [email protected]
As competições das olimpíadas estão chegando à reta final e, mais uma vez, me atrevo aqui a apontar os maiores pecados do evento, mesmo sabendo que a grande maioria vai opinar que tudo foi muito lindo e maravilhoso. Para começar, daria nota zero para o comportamento da torcida brasileira que em muitas ocasiões demonstrou total falta de educação, vaiando em momentos em que o atleta precisaria (caso do francês no pulo com vara) de concentração para exibir sua modalidade. >>>>>>
O francês ficou chocado com o que viu e, no calor do momento deu uma declaração até infeliz comparando aquilo que viu com os jogos de 1936 na Alemanha nazista, mas numa coisa ele tem razão: Esse tipo de coisa passa uma imagem negativa do país. Até a delegação argentina foi vaiada na abertura solene das Olimpíadas. Os atletas da ginástica, do tênis, da natação e do atletismo ficaram sem entender a atitude dos torcedores. As arenas mais pareciam estádios de futebol em final de campeonato.
A mídia esportiva, caso das emissoras abertas de televisão, especialmente a Globo, foi descompensada e esqueceu do jornalismo para fazer dramaturgia, como bem analisou o jornalista Ricardo Feltrin. Galvão e sua equipe foram exagerados na espetacularização se limitando ao oba-oba nas entrevistas na base da “emoção” e da “superação”. Alguns fatos negativos foram registrados de forma superficial. Nada sobre o legado dos elefantes brancos. Os outros canais apenas copiam. A cobertura esportiva continua longe do jornalismo e bem próxima do sensacionalismo. Os apresentadores parecem vampiros quando um atleta se destaca.
Nas modalidades em que o Brasil esteve representado, o apresentador fez mais o papel de torcedor barulhento do que comentarista esportivo ou narrador. Confesso que fiquei horrorizado com a narração de uma partida de handebol onde o cara (Escobar) gritava, berrava e mandava o jogador tomar a posição mais adequada no campo, como lançar a bola e marcar. Nem o técnico ousou fazer aquele estardalhaço. Assim não dá para assistir a uma competição.
Para este artigo sobre as maiores falhas das Olimpíadas Rio 2016, contamos com a prestimosa colaboração do companheiro jornalista Carlos Gonzalez que ficou durante todo o tempo de olho no que se passava nas disputas. Li um comentário do Ricardo Feltrin onde afirma que a cobertura esportiva é um novo carnaval de textos piegas.
A água esverdeada nas piscinas onde o porta voz do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) culpou as chuvas e “justificou” que a química não é uma ciência exata, foi outro grande pecado vergonhoso na organização. As filas intermináveis deixaram muita gente de fora com ingressos nas mãos. Nas competições de ginástica e natação ficou bem evidente a regressão dos atletas brasileiros, principalmente no nado nas piscinas, sempre nos últimos lugares. Sem essa de que a equipe é jovem no entendimento da mídia descompensada.
Que os norte-americanos são prepotentes e arrogantes já sabemos, mas não que são tão mentirosos e farsantes ao ponto de inventarem um assalto, como fizeram os atletas da natação. Foi feio, só que isso não anula o nível de violência no Rio de Janeiro, tanto que a cidade foi tomada pelas forças armadas e os atletas são orientados a não saírem da Vila Olímpica. Não vamos ser hipócritas agora e jogar a sujeira para debaixo do tapete. È um absurdo o assessor de Imprensa do Comitê, Mário Andrade, afirmar que o Rio é o local mais seguro do mundo. È também uma grande mentira.
Para outros comentários passo o bastão para meu amigo jornalista Carlos Gonzalez, mais atento que eu aos deslumbres da festa:
Diante da falta de transparência do Comitê Rio 2016, responsável pela organização da Olimpíada, recusando-se a abrir seus gastos para o Ministério Público Federal, a juíza Marcia Maria Nunes de Barros determinou a suspensão de repasses de verbas públicas para o organismo, “até que seja dada ampla publicidade e todas as receitas e despesas”, fixando uma multa diária de R$ 100 mil caso a decisão judicial não seja cumprida.
A suspeita de caixa preta nos órgãos diretamente vinculados ao esporte olímpico, principalmente no COB, é antiga, ficando mais evidente no Pan-Americano de 2007, no Rio. A propósito, o presidente Carlos Arthur Nuzman, o vitalício no cargo, sumiu depois do discurso, carregado de ufanismo, pronunciado na abertura dos Jogos.
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Alegando falta de verbas, o Comitê Rio 2016 já adiantou que as Paraolimpíadas, marcadas para o período de 7 a 18 de setembro, terão uma estrutura modesta. Milhares de contratados e voluntários serão mandados pra casa. A venda de ingressos está aquém do previsto. Vale salientar que a Procuradoria do Ministério do Trabalho está investigando as condições de trabalho na Rio 2016. Estudantes das escolas municipais serão retirados das salas de aula para preencher os lugares vazios nos locais das competições.
Michel Phelps, 31 anos, maior atleta olímpico de todos os tempos, despediu-se do esporte que lhe deu em quatro Olimpíadas 28 medalhas (23 de ouro, duas de prata de duas de bronze). Pouca gente sabe que esse fenômeno da natação, após os Jogos de Londres 2012, foi preso duas vezes dirigindo embriagado; usou drogas e entrou em depressão. Após um período de recuperação numa clínica especializada, esse norte-americano de Maryland voltou às piscinas, sendo hoje considerado, ao lado do velocista jamaicano Usain Bolt, como o maior nome dos Jogos do Rio.
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Se Michel Phelps contribuiu para manter os Estados Unidos em primeiro lugar no ranking das Olimpíadas, com mil medalhas, o Brasil, que almeja tornar-se uma potência olímpica, está acima da trigésima posição, com 120 medalhas (25 de ouro, 33 de prata e 62 de bronze). Cuba, uma pequena ilha no Caribe, figura em 22º lugar, com 219 medalhas.
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R$ 140 milhões foi quanto os Correios investiram na natação brasileira para os Jogos do Rio 2016. Resultado: zero. Nem um só nadador brasileiro subiu ao pódio. “Estou felizão, fiquei em sexto”, ironizou o nadador brasileiro Bruno Fratus ao sair da piscina, quando entrevistado por uma TV. Interessante é que a empresa, que já foi modelo de empreendimento no Brasil, depois que passou a ser administrada por políticos – é um feudo do PDT – trabalha no vermelho. O Postalis, o fundo de pensão dos funcionários, está com um rombo de R$ 1,2 bi, que será pago em 23 anos por carteiros.
O ex-campeão mundial de boxe, o baiano Acelino “Popó” Freitas, comentando o torneio de pugilismo dos Jogos para uma TV, reclamou que os juízes estão beneficiando alguns países. Imaginou-se que Popó estaria se referindo a nações consideradas potências esportivas. Errado. Ele citou os quase desconhecidos países asiáticos, Cazaquistão e Uzbequistão.
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A piscina de saltos ornamentais, polo aquático e nado sincronizado recebeu o apelido de “pântano” pelos atletas, que se queixaram de ardência nos olhos devido a qualidade da água, que tomou uma cor verde, resultado da adição de 80 litros de peróxido de hidrogênio, neutralizante do cloro. A organização dos Jogos pediu cinco dias para resolver o problema e culpou uma empresa terceirizada.
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Foi mais fácil encontrar um atleta das Ilhas Cayman nas arenas esportivas da Rio 2016 do que um brasileiro. Nossos representantes transformaram em pesadelo o sonho dos dirigentes do COB, de colocar o Brasil entre os 10 primeiros do ranking dos Jogos. Os comentaristas da Globo, emissora oficial, têm sempre na ponta da língua uma desculpa para as derrotas. As “justificativas” são sempre fenômenos naturais e até conspirações do além.
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“Cala a boca, Galvão”, repreendeu em inglês um narrador da BBC de Londres ao seu colega Galvão Bueno, durante uma prova de natação, cuja ordem de largada foi interrompida pela juíza, enquanto aguardava que Galvão fizesse silêncio, acompanhando os milhares de espectadores presentes ao Parque Aquático Maria Lenk.
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A tecnologia tem dirimido dúvidas e alterado resultados em competições de vôlei, hóquei sobre grama, tênis, atletismo e outros esportes. O futebol, no caso, a FIFA, continua ignorando a modernidade.
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Em 2008, o pequeno cingaporeano Joseph Schooling, com 13 anos, aluno de um curso de natação, teve a felicidade de tirar uma foto com o já consagrado Michel Phelps. Oito anos depois, na Rio 2016, ele vence o norte-americano na prova dos 100 metros mariposa. Além dos elogios que recebeu do seu ídolo de infância, o detentor da única medalha de ouro de Cingapura vai ganhar 670 mil euros, o correspondente a R$2,5 milhões do governo do seu país.