Jeremias Macário | Jornalista | [email protected]
Como na guerra entre nações em disputa por territórios, poder e riquezas naturais, onde os civis são massacrados em meio a tantos bombardeios, como vem acontecendo na Síria há mais de cinco anos, nas campanhas eleitorais, a maior vítima é sempre a verdade. Como na propaganda beligerante entre o capitalismo ocidental e os regimes orientais, nas campanhas políticas, o eleitor é torpedeado com falsas verdades entre os candidatos dos diversos partidos que entre si se acusam. >>>>>>
No Brasil, como a maioria é inculta, desinformada por falta de leitura constante e, consequentemente, de pouco censo crítico, os fatos são distorcidos e terminam virando verdades. É só observar os lados que trocam farpas, um dizendo que fez mais que o outro, sem contar a deturpação de falas e pronunciamentos sobre determinadas questões da vida social e política.
É um emaranhado de scripts marqueteiros num jogo sempre desleal e enganoso para fisgar o eleitorado mais desatualizado com os acontecimentos. Em meio ao fogo cruzado, grande parte fica confusa. Aquela que já é fiel ao político na campanha, acredita piamente no que o seu candidato diz contra o adversário, enquanto outra parte rebate criando também suas mentiras.
Por isso é que em toda campanha política, especialmente num país pouco letrado e de democracia ainda relativa, existe com mais intensidade uma “guerra” de desinformações e deturpações das palavras onde a verdade é a maior vítima. Na sangrenta guerra síria, os Estados Unidos acusam os russos de terem bombardeado um comboio de ajuda aos famintos e doentes civis, enquanto a Rússia acusa os rebeldes e os próprios norte-americanos.
No caso específico da campanha eleitoral em Vitória da Conquista, o PT de José Raimundo, que já foi prefeito por duas vezes, alardeia que o PMDB de Herzem Gusmão nunca fez nada e só fala mal da cidade, enquanto este mostra que na Assembleia Legislativa o outro sempre votou contra o povo.
E o caso da pesquisa registrada no Tribunal Regional Eleitoral que foi colocada como fajuta e encomendada por empresa não idônea? Quem está mesmo falando a verdade? Dia desses no programa eleitoral, um vereador fez um apelo para que o eleitor vote em seu partido, sob pena da população vir a perder as conquistas obtidas na educação. Mas, que conquistas, cara pálido, se o índice no Ideb está lá embaixo? Se o ensino ainda é deficitário e muitas escolas são precárias? Mais uma vez, a verdade foi a vítima.
O mais irônico ainda é ver o PT e o PMDB fazerem acusações mútuas de envolvimento dos chefes de seus partidos na Operação Lava Jato, quando sabemos que são as duas maiores agremiações do país que mais respondem por denúncias de recebimento de propinas da Petrobrás. É o roto falando do esfarrapado. O eleitor mais esclarecido está vendo tudo isso.
Enquanto rola a “guerra das desinformações”, estamos chegando à reta final da campanha eleitoral e até agora não se saiu dos acessórios para os projetos e programas essenciais para o município. Nesta história, não deixe que a verdade seja a maior vítima!
Quase nada se ouviu sobre política cultural, desenvolvimento das artes, uso adequado do solo através de um novo projeto diretor para a cidade, ações concretas para a educação e a saúde, enfim, projetos viáveis de infraestrutura, e não coisas soltas e pontuais. Na sua maioria, o eleitor já está cheio de bate-boca de um falar mal do outro.
E A NOSSA CÂMARA, HEM!
Outra coisa que se deve levar muito a sério, e que não se tem dado tanta importância, é quanto à composição da Câmara Municipal de Vereadores, cuja representação dos seus membros ainda deixa a desejar. Infelizmente, o nosso eleitor ainda não tem uma consciência política formada sobre o fundamental papel do legislativo para a sociedade.
É pena que o voto ainda tenha cunho assistencialista e coronelista, na base do favor, e pouco se leva em conta o critério de capacidade, de preparo, seriedade e nível de conhecimento do candidato. Lamentavelmente, o voto continua sendo de cabresto e entre amigos.
O resultado é que os mesmo são sempre reeleitos por vários e vários pleitos, passando de pai para filho, de tio para sobrinho e assim por diante, numa herança interminável de parentescos. É a chamada herança do cabedal do voto. Fora o festival de nomes exóticos que lembram o Tiririca, pouco se aproveita.
Quem perde mais com isso é a sociedade. Por essas e outras é que a nossa Câmara fica muito a desejar em termos de transparência dos gastos. Por sua vez, os segmentos sociais também têm sua parcela de culpa porque deixam de cobrar da Mesa Diretora mais esse item essencial. Depois de eleito o vereador acha que é o dono supremo do cargo e não tem que dar satisfação a ninguém.
Já que o parlamentar municipal é bem remunerado, tem verba de gabinete e vários assessores, visto como um “funcionário público qualificado” que nos representa, sou da opinião que o candidato a vereador tenha pelo menos o nível médio de ensino, como é cobrado de qualquer concursado ao serviço público. É mais do que justo.
Essa seria uma exigência mínima que deveria constar de uma reforma eleitoral profunda. Não se trata de uma questão de seletividade e de preconceito, mas de coerência porque é o mesmo que se exige num concurso público, sem contar que o vereador tem ainda maior responsabilidade.
Seria este o primeiro requisito para depois o pretendente a vereador ser submetido ao voto popular. Isto serviria até de estímulo para que as pessoas estudassem mais. O vereador e o prefeito, como o deputado, também não se enquadram como funcionários públicos? Então, que sejam passados pelo crivo do conhecimento e da honestidade.