Marco Antonio Jardim Melo | Publicitário | [email protected]
Quero dizer o que vi e senti, enfim. Mesmo que me cause revelar coisas de mim.
Eu te vi, em meio a uma noite de multidão ébria.
Vestia jeans, firmado por um cinto de couro marrom, os longos cabelos presos num coque, barba espessa bem desenhada, olhos semicerrados, inebriados pelos segundos, e vez em quando um espontâneo sorriso solar.
Parecia prenúncio de verão, signo de ar ou mar, não sei bem o que recitar.
Segurou minha bebida e meu cigarro e tocou meus braços antes de partir.
Na partida, seu rosto não me parecia estranho.
Te vi num convescote de regozijo, tempos atrás. >>>>>>
Sintonia, sinais.
Tinha tanto azul à sua volta, um espectro de azul que brotava sobre os ombros à flor da pele.
Como o céu noturno que se via no pátio da estação lunar.
Um estrangeiro ardente de espírito livre, humanitário.
Manifestando, por gestos, a mágica de outro vocabulário.
E o que você sente, você sente. Honesto, atraente, leal.
Ou mesmo independente, algo que atemporal.
Revi, em você, os meus. Os bairros que amei em Salvador, a areia da praia em que deitei, o gosto do tamarindo, os frutos do mar.
Um choque de corpo em arrepio.
E o melhor que você conheceu no ardil desse dia impreciso eu vi aqui neste lugar.
Você transitou. Como um gato himalaio, exuberante, elfo, entre um universo e outro torpor.
Não me confessou, mas apreciou o signo.
Aquário. Leão. Confluências da constelação.
Simples, como um colar de âncora, balbuciei palavras afins: feliz por te reconhecer.
Desejaria, falei aos botões, ser o lugar que você chama de casa, de viver.
E suas mãos avoadas, pacientes, pousaram sobre as esquinas dos meus cabelos pelas horas gastas de então.
Minha pele em sua pele, como numa genuína história tecida de um artesão.
Promessas que se espargiram ou sensível gratidão.
Esteve, ali, reticente, ou seria mera impressão?
Saudade, pois. Do pátio, da luz, do sol, dos pêlos em minha língua, do tempo que ressoa estranho e bom, à míngua.
Saudade por um fio, seguindo o curso do rio até a cama, sonhando qualquer futuro feliz perto de mim outra vez.
Dimensão, desdobramento, e eis que segurei na gola dos seus pensamentos, como numa confissão de um beijo roubado em languidez.
Dois corpos inteiros conectados, sublimes, sem imitações.
Possibilidades vivas, (dis)posições.
E pensar que de manhã deixei a janela aberta pro seu sorriso perfumar.
Ainda é primavera, elfo. Manifestação sem filtros, sem expectativas, sem pressão.
É o plano da vontade de um dia desses, num desses encontros de ocasião.
E eu colocaria você pra dormir em meu peito, no tempo que eu tiver a oferecer.
Deixo pro universo e, se não pode ser no seu, lanço aos braços de Morfeu.
Eis minha dedicação plena à duração das coisas que sentimos, destino de todos os ritmos.
É mesmo possível se apaixonar por alguém em tão poucos dias?
Não julgamos e talvez nem queiramos compreender tais algoritmos.
Talvez fujamos pra Pasárgada, Santiago ou outra breve paisagem a nos recolher.
Ou não. Sem mistérios, sem destinos, sem desvãos.
Talvez seja só amor às últimas vistas, como num dia que despontou azul.
Suave saudade, elfo.
Amanhã, em dezembro, pode ser que tudo isso vá.
Mas enquanto não sucede, ai shiteru.
Marco Antonio Jardim Melo
(inspirado nos últimos nove dias e na canção “All That”, de Carly Rae Jepsen)