Jeremias Macário: A reação a tantas ofensas

Foto: BLOG DO ANDERSON
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Jeremias Macário | Jornalista | [email protected]

Todos os dias o indivíduo que sempre se considera o esperto passa na porta do outro e o chama de covarde, inútil, imprestável, otário, abestalhado e faz outras ofensas à sua pessoa e à sua família, mas ele com sua índole pacata, não reage; fica calado remoendo sua mágoa; e leva a vida como ela é, ou a vida vai lhe levando, como diz o poeta.  >>>>>

Seu Brasiliano é um típico cidadão cumpridor de seus deveres, trabalhador, vota em todas as eleições e faz de tudo para não transgredir as leis do seu país e da sua comunidade. Dá um bom exemplo e um duro danado com honestidade para botar o alimento de cada dia em casa e educar bem os seus filhos para que no futuro tenham uma vida melhor.

O Dr. Corrupio que exerce um importante cargo público e toma conta das finanças do Estado é o inverso e passa por cima dos direitos dos outros. Tripudia, rouba e não está nem ai para as leis, nem para a melhoria das novas gerações. Vive numa bela mansão, cercado de todos os luxos e se acha o mais sabido de todos. Os outros que se lasquem!

Como no poema de Maiakóvski, toda vez que ele se cruza com seu Brasiliano é aquela humilhação com xingamentos de idiota, imbecil e burro de cangalha que não sabe aproveitar as oportunidades e se fazer na vida. Sem perceber, roubaram as flores do seu quintal e agora estão invadindo sua casa e tirando tudo que ele conquistou com esforço, luta e suor.

O Brasiliano segue cabisbaixo matutando sobre aquilo tudo e até na eventual possibilidade de entrar no mesmo esquema do Corrupio e se dar bem, mas a sua formação, dignidade e ética não lhe permitem fazer parte do clube da safadeza. Apesar de tudo, continua sentindo na pele as agruras e as injustiças advindas das desigualdades sociais.

Corrupio não desiste de atormentar seu Brasiliano. Além de lhe encher de apelidos pejorativos em sua porta e gozar com sua cara de bobo, agora avisa que vai mandar uns capangas seus para ele entregar uma parte do que ganhou para cobrir o rombo das finanças do cofre que Corrupio toma conta e esbanjou com ostentação nas suas luxúrias pelo mundo dos prazeres.

Brasiliano não aguenta mais tanta afronta e cinismo. Sua família já está passando necessidades e privações. Os serviços em educação, saúde e segurança que há muitos anos ele vem pagando em contribuições pecuniárias tiradas do seu bolso, já não recebe mais. Teve um filho que morreu na porta de um hospital por falta de atendimento médico, sem contar parentes e amigos que choram a amargura dos corredores infecciosos das unidades de saúde.

A educação está muito doente com escolas sem merenda e tetos em ruínas. Sua casa foi assaltada e roubada várias vezes. Por fim, seu Brasiliano perdeu o emprego e não pode sacar seus parcos benefícios trabalhistas no banco por causa das greves. Vieram umas medidas e tomaram parte do que lhe pertencia por direito.

O homem que até há pouco tempo era manso, cordeiro e confiante nas mudanças, se indignou e virou um bruto, sem mais esperanças e revoltado com a situação. Perdeu sua autoestima e não dá mais para suportar o aniquilamento da sua pessoa. Agora ele quer é vingança mesmo, porque a justiça lhe foi negada.

Dessa vez, depois de tantos abusos, seu Brasiliano, que não tem mais nada a perder, se “retou” de vez. Pegou um porrete que sempre deixou esquecido lá no canto do seu quarto e foi pra casa do Dr. Corrupio fazer uma tocaia. Perdeu a paciência e decidiu ir à forra, tirar satisfação. Quando Corrupio saiu em sua porta com seu carrão de luxo, ele partiu com seu cacete e numa paulada só derrubou seu desafeto.

Durante anos milhões de brasilianos são ultrajados, humilhados e impedidos nos seus direitos de ir e vir. Quando reagem são tratados como vândalos, bandidos, marginais, vagabundos e transgressores da Constituição. É o porrete e a chibata no lombo de quem mandou dar. A guerra do facão pode voltar e ai muita gente vai apanhar nessa terra de carcará.


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