Carlos Albán González
Por duas vezes neste espaço questionei a diretoria do Vitória da Conquista para o fato de, na condição de campeão da Copa Governador do Estado, ter optado em disputar a Copa do Brasil de 2017, em vez de participar do Campeonato Brasileiro da Série “D”. Em declarações dadas a uma emissora de rádio, ainda sob o impacto de uma desclassificação precoce diante do Coritiba, o presidente Ederlane Amorim surpreendeu os desportistas de sua terra ao prever a morte do clube, com apenas 12 anos de idade, por completa falta de recursos financeiros. >>>>>>>
Explicou o dirigente que, com base num estudo orçamentário traçado para este ano, seria mais vantajoso garantir, já no primeiro trimestre, os recursos proporcionados pelo jogo da Copa do Brasil realizado no Estádio Lomanto Júnior, do que aguardar até o segundo semestre pela disputa da Série “D”, mesmo levando em conta que, pelo menos, o Conquista faria seis jogos. Segundo o borderô da CBF, o público pagante no jogo do último dia 8 foi de 2.756, proporcionando uma renda de R$ 55.702,50. Deduzidas as despesas, o clube local recebeu apenas R$ 10.223,83 e o Coritiba R$ 15.335,74.
Participando de um Campeonato Baiano pessimamente organizado, o clube conquistense não podia esperar até o segundo semestre do ano para ter uma ideia de como será disputado o Brasileirão da Série “D”; quais serão os seus adversários (um deles pode estar sediado no Acre e outro no extremo sul do país); como se dará a ajuda da CBF em passagens, provavelmente rodoviárias, além de alimentação e hospedagem.
O Vitória da Conquista necessita hoje de dinheiro para poder pagar a folha de janeiro – em torno de R$ 120 mil – dos atletas e comissão técnica, e dos funcionários. No seu desabafo, Ederlane chegou a afirmar que o clube estava com dificuldade até para comprar a alimentação fornecida aos jogadores na concentração, às vésperas dos jogos.
Nesses momentos de crise, o expediente, em última instância, é apelar para o poder municipal, embora, em minha opinião, o prefeito Herzem Gusmão, assim como seu antecessor, não priorize tanto o esporte, ou talvez faça parte de uma maioria de moradores da cidade que solta foguetes e chora pelo Flamengo. Ederlane já estendeu o chapéu para a prefeitura, para evitar que a cidade fique sem um clube profissional – outros times são apenas lembranças, enquanto o Serrano resolveu mudar de ares.
O quê a FBF, que deve estar com os cofres abarrotados, dirigida pelo conquistense Ednaldo Rodrigues, pode fazer para tirar o Conquista da UTI? E a indústria local? O comércio? E os grandes empresários? Ter o nome do seu empreendimento no uniforme de um clube é um grande negócio. Dou como exemplo o Corinthians, veículo utilizado por uma cervejaria espanhola, a Estrella Galicia, para divulgar seu produto.
Há alguns meses comentei aqui que a solidariedade da população de Chapecó (capital nacional da agroindústria; 99 anos de fundação e 209.500 habitantes) pelo time da cidade não se deu em função daquele lamentável acidente aéreo. Muito tempo antes os chapecoenses já haviam abraçado o clube, que é campeão sul-americano e participa da elite do futebol brasileiro. Esse sentimento de afeição vem da parte da municipalidade, do poder econômico e, principalmente, dos desportistas, que não trocam o verde e branco da Chapecoense pelas cores de clubes do Rio e São Paulo.
Prejudicado por um árbitro nordestino, que deixou de assinalar um pênalti quando o placar estava em 1 a 1, o Vitória da Conquista não mostrou futebol, mesmo habituado ao gramado mal conservado do Lomantão, para vencer o Coritiba, um time de médio porte, embora faça parte da Série “A”. Aplausos para o goleiro Rodolfo, que evitou um placar mais dilatado, embora tenha falhado no gol adversário, não afastando a bola alta, na cobrança de escanteio, sobre a pequena área.
A partida contra o Bahia, dia 5 de março (domingo), é a única oportunidade que o Vitória da Conquista terá este ano para levantar recursos para pagar seus compromissos financeiros. Pressionada pela CBF, a Federação organizou um campeonato estadual apertado, com apenas jogos de ida. A primeira fase do torneio terminará em 12 de abril. Além do Bahia, o Conquista só jogará em casa contra Atlântico (19 de fevereiro), Jacobina (22 deste mês) e Flamengo de Guanambi (2 de abril). Terá que se classificar entre os quatro primeiros para disputar mais quatro jogos (semifinais e finais) até 5 de maio. Depois disso, é aguardar a Copa Governador do Estado. E torcer pela sobrevivência em 2018 e por muitos anos. Com a ajuda, claro, dos conquistenses.