Críticas, em qualquer área da sociedade, são necessárias. É claro que existe criticar com o objetivo de destruir, mas o contrário é algo que deveria ser regra: avaliar ideias e atitudes, ponderar o que é positivo e expor as questões negativas com o intuito de qualificar o diálogo. É com esse intuito, por exemplo, que critico a forma como o futebol da Bahia é gerido pela maioria de seus administradores. Vivo do futebol há dez anos. Comecei acompanhando os clubes do interior, viajei para diversas cidades da Bahia e conheci dezenas de estádios municípios afora. Me deparei com dirigentes abnegados, que buscavam o sucesso de seus times por puro amor ao esporte, mas também topei com cartolas amadores, que sequer saberiam ler um balanço financeiro ou traçar o perfil de um profissional que se deseja contratar. Estes, inclusive, são maioria – a ponto de não reconhecerem seus erros e nem buscarem uma autorreflexão, pondo a culpa de seus fracassos em qualquer pessoa que não seja eles mesmos. >|>|>|>|>
Não é o caso de Ederlane Amorim, um ponto fora da curva no perfil de dirigente do futebol baiano. Quando idealizou o Esporte Clube Primeiro Passo, a fim de descobrir jovens talentos em Vitória da Conquista, talvez já pensasse em profissionalizar o projeto. O clube transformou-se no Vitória da Conquista, ganhou responsabilidades maiores e soube lidar com elas. Quase foi campeão baiano em 2008 e chegou à decisão em 2015, mas perdeu o título. Disputou 11 competições nacionais em 12 anos de existência. Muitos consideram fracasso, mas o Conquista transformou-se num dos times mais respeitados do interior baiano graças à administração feita por Ederlane: um dirigente focado, que buscou conhecimento para ser um gestor de qualidade, e que sabe que não existe sucesso sem um trabalho bem estruturado.
Na semana passada, quando o Vitória da Conquista foi eliminado pelo Coritiba na Copa do Brasil, Ederlane Amorim provocou novamente uma reflexão que é feita por aqueles que buscam a crítica construtiva no futebol baiano. E, talvez sem a intenção, deu a exata noção do que os clubes do interior precisam. Ao revelar que o Bode não tem condições de disputar competições nacionais, já que convive com atraso de salários, falta de dinheiro para alimentação e apoio da prefeitura, além de ser rejeitado pelos grandes empresários locais, o presidente do alviverde mostra capacidade de perceber o cenário onde está inserido e tem claro entendimento das consequências, a ponto de ser frio no diagnóstico: “Não se pode fazer futebol da maneira que fazemos futebol”. Ederlane teme pelo fechamento do Vitória da Conquista, caso a situação não mude.
Discordo apenas quando o dirigente conquistense afirma que os grandes clubes querem acabar com o estadual. A qualidade técnica do Campeonato Baiano é baixa em virtude do que os outros times apresentam. Mesmo se entrarem em campo com jogadores considerados reservas, Bahia e Vitória ainda entregarão equipes com maior nível, se comparamos com as demais agremiações do interior. Se somarmos as condições dos gramados da maioria dos estádios e o desinteresse do torcedor em assistir jogos pouco atrativos, o cenário estará composto.
Fico satisfeito em perceber que ainda existem alguns dirigentes lúcidos nos clubes do interior da Bahia e Ederlane Amorim encabeça essa pequena lista. Feliz também em saber que a autocrítica existe. Porém, é de dar tristeza saber que essa minoria não está sendo capaz de elevar o nível do nosso futebol e destruir um sistema que o enfraquece há anos.
*Elton Serra é jornalista e escreve às segundas-feiras