Jorge Maia | Professor e Advogado | [email protected]
Eu era menino, e não faz muito tempo, e me lembro do meu pai sempre cuidadoso com a saúde. Depois de certa idade passou a frequentar com mais assiduidade os consultórios médicos em busca de prevenir-se. Depois de tantos exames clínicos anuais passou a frequentar o cardiologista, pois era preciso muita garra para cuidar dos filhos. Buscou o consultório mais famoso da época e estava tão bem que o cardiologista lhe recomendou uma dose de whisky diária. Certo dia, já adolescente, eu comentei a tal receita para alguns amigos os quais foram unânimes em afirmara que queriam um médico assim. Leia na íntegra mais uma crônica de Jorge Maia.
Meu pai não conhecia nenhuma marca de whisky, nem poderia comprar, as deu um jeito de adquirir cachaça de Piripá, pois segundo ele, não havia algo melhor e fez uso moderado por muito tempo, até que um dia veio a proibição daquele consumo.
Agora sou eu que invisto no projeto saúde, não sei bem qual será a lucratividade, mas invisto na esperança de que haja algum ganho. Em um mundo de consumo como o nosso todo investimento torna-se esperança de lucro.
Fui recomendado a fazer uma cintilografia, uma nova palavra incorporada ao meu vocabulário. Tal exame consiste em deixar de beber café, refrigerante, comer banana e outras coisas mais. O que fez falta foi a banana e o café. Por quatro dias submeti-me ao sacrifício, tudo em nome da saúde.
Após ser atendido pelo médico, recebi uma dose de determinada substância, contraste, e a recomendação de comer alimentos calóricos: pastéis, quibe, coxinha, além de caminhar e beber água com gás. Era uma hora da tarde e a fome aumentava, sem contar que eu deveria retornar para a clinica às catorze horas.
Saí e contemplei o mundo, meio sem graça e com certa fome fui entrando em cada lanchonete e pedia pastel, quibe e coxinha, mas naquela redondeza o estoque já estava acabado. Em uma delas uma jovem perguntou: é para exame? Ela já conhecia a situação.
Parei um pouco, pensando em onde encontrar aqueles salgados e concluí: no Saruê. Pois é, eu fui ao Saruê e comi dois pastéis de queijo. Estavam quentinhos, gordurosos, mas saborosos, só faltou o caldo de cana, mas era proibido. Depois água com gás e uma caminhada.
Eu penso que não vou comer pastel por um bom tempo, mas sei que naquele pouco tempo, sentado à mesa do Saruê, causei muita inveja a quem não pode comer pastel, da mesma forma que meu pai fazia inveja quando dizia que bebia por recomendação médica. 040417