Jorge Maia: A Beócia está em chamas

Jorge Maia | Professor e Advogado | [email protected]

Beócia, 30 de fevereiro de um ano qualquer

Querido Jorge Maia, relutei um pouco em escrever-lhe, pensei bastante e conclui em absolve-lo. Afinal a Beócia está tão complicada que não temos o direito de cobrar opiniões. Sei o que você pensa sobre a nossa situação e defende o apocalipse agora como único meio para resolver a situação absurda em que vivemos. Às vezes penso sobre isso, talvez começar de novo seja uma solução. Imagine que em um julgamento no STB os adversários gostaram do resultado do julgamento, pois ninguém foi cassado. Um julgamento, necessariamente precisa desagradar a uma das partes, na Beócia, desagrada ao povo. Leia na íntegra.

Verdadeiramente, na Beócia, o povo é um detalhe, que ao contrário da canção não tem importância, pois são coisas muito pequenas para se lembrar. Ao juiz cabe a apreciação do detalhe. Aqui o detalhe foi encoberto por uma situação e por uma avalanche de fatos que o detalhe, o povo, foi esquecido, aliás, nem percebido.

Para onde vamos? Não sabemos. Creio que ficaremos a girar sobre o mesmo tema, o tempo todo, e entre altos e baixos continuaremos o caminho medíocre estabelecidos pelos políticos, navegando sem rumo, em nau dos insensatos. Quem sabe nos pare um iceberg, ou quem sabe descambaremos no infinito quando despencarmos do globo terrestre? Uma estrada sem chegada.

Eu soube do show de Bell aí em Vitória da Conquista, mas não pude ir. Sofri muito, pois era uma oportunidade de matar a saudade dos tempo do Chiclete, mas um fato importante prendeu-me nesta doce terra: a saúde de Marai Periguete. Talvez você não saiba, mas a nossa Maria sofreu um ¨passamento¨ Está desmemoriada, com o olhar fixando o infinito, perdido em algum horizonte mental, é um quadro triste e tive que ajudar a cuidar dela.

Ela não fala nada, às vezes balbucia algumas palavras incompreensíveis, alguns acham que é em norueguês, pois ela andou fazendo um curso no Duolingo, mas não temos certeza do que se trata. Em outros momentos ela passa a cantar: ¨onde você estiver, não se esqueça de mim, não se esqueça de mim¨. Todos nós nos emocionamos diante daquele sofrimento. Aquela menina tão cheia de vida, agora, catatônica.

Confesso a minha ousadia, sempre tentando ajudar, e fui ler o seu diário. Lá, encontrei a explicação para o seu atual estado: Todos os anos espero rever Francis no natal. Neste ano ele anunciou que viria em maio, imaginei que era para pedir-me em casamento, afinal maio é o mês das noivas. Ele veio às escondidas e quando eu sou soube já tinha voltada. O golpe de misericórdia veio quando eu soube que ele vai ser pai. Não suportei tal choque e refugiei-me em mundo imaginário, onde o tempo não passa e os momentos de esperança se repetem a cada momento. Estou feliz, revivendo tantas emoções do tempo de nós dois¨.

Depois de ler esse trecho parei de ler o diário de Periguete, pois sentia-me muito invasiva e detentora dos seus segredos. O importante era que ela está feliz em seu delírio, mas tratei de interna-la na clínica do Dr. Simão Bacamarte. Não tem apresentado melhores, apenas continua com o olhar abobalhado das pessoas apaixonadas.

Um abraço, destas doces terras da Beócia. 250617