Rio de Janeiro: Lindo por fora e feio por dentro

Fotos: Jeremias Macário

Jeremias Macário | Jornalista | [email protected]

É verdade que o Rio de Janeiro continua lindo e maravilhoso com suas belas paisagens do Pão de Açúcar, do Morro da Urca, do Cristo, da Baia da Guanabara e do por do sol de encantar e tirar o fôlego de qualquer um, mas não gostei nada do que vi por dentro de suas ruas, avenidas, dos esgotos e lixos sendo despejados na Lagoa Rodrigo de Freitas, e só em pensar que é um Estado falido que foi roubado por políticos pilantras.

Como em outras capitais e grandes cidades do país, é muito feio ver a miséria estampada através de moradores de rua dormindo nas marquises, lixo espalhado em vários pontos, sem contar o vandalismo contra as lixeiras, monumentos e o patrimônio público em geral. Não poderia deixar de incluir aqui a violência que assusta e impede o povo de sair à noite para se divertir, bem como o sofrimento que estão vivendo os servidores públicos sem receber seus salários.

Nos dias em que passei no Rio durante o período natalino procurei esquecer todas estas mazelas internas e aproveitar ao máximo tudo de bom e bonito da natureza e dos pontos turísticos culturais, como os museus, muitos dos quais, infelizmente, fechados nos finais de semana. Outros estão em precário estado de conservação, como é o caso do Museu Nacional, cujos funcionários em protesto por não receber seus vencimentos. Leia a íntegra.

Ao entrar nesta instituição, fiquei surpreso quando vi que todas as esculturas gregas, romanas e egípcias estavam com uma tarja preta cobrindo suas faces. Conversei com um funcionário que explicou ser uma forma de protesto contra o corte de verbas do governo federal para manutenção e preservação do museu.
Percebi muitas estátuas desgastadas pelo tempo, as quais necessitam urgentemente de restauração. Além disso, o pessoal está com salários atrasados. É a cara de um país que não dá o mínimo de atenção para a cultura. Fiquei muito sentido por não conhecer totalmente a Biblioteca Nacional que está passando por uma lenta reforma sem tempo para concluir. O belo Teatro Municipal estava fechado.

Outro sinal de desleixo para com a nossa sofrida cultura é o fechamento de museus e pontos turísticos em final de semana, coisa que só acontece no Brasil. Estavam lacrados para visitação, justamente no domingo, o Museu Contemporâneo, em Niterói, e o Jardim Botânico, em dias próprios em que as pessoas estão mais disponíveis para conhecer estes lugares importantes e históricos.

Nem tudo está perdido. Conhecer o Museu do Amanhã foi compensador para a alma. Com uma arquitetura arrojada e futurista, erguido na antiga Praça Mauá, suas instalações chamam a atenção logo na entrada com exposições modernas e interativas sobre o tempo e os nossos antepassados. Um deslumbramento a área destinada ao “Cosmos” em altas dimensões com imagens que fazem o visitante refletir sobre a vida e a origem do planeta terra, seus habitantes e transformações.
O Museu do Amanhã se soma hoje a mais um dos locais no Rio de Janeiro que não pode deixar de ser visitado pelo turista e de quem mora na capital. É como ir a Roma e não conhecer o Vaticano, como se diz por aí. As pessoas se interagem com a arte e ai aproveitei para pedalar uma bicicleta que gera energia e ilumina. Tudo ali dentro é dinâmico e repleto de informações e conhecimentos gerais. É uma aula de sociologia, história e ciência.

Outro local prazeroso que pulsa arte com belas apresentações de fotografias e pinturas é o Centro Cultural Banco do Brasil com espaços de destaques que valorizam artistas nacionais e internacionais. Do Morro da Urca e do Pão de Açúcar, através de seus bondinhos, tem-se uma visão deslumbrante de como o Rio de Janeiro é lindo demais. O indivíduo sente-se que está flutuando no ar. Vale a pena o passeio apesar de caro (R$80,00 e meia para idosos).

Entre outros lugares imperdíveis, não poderia deixar de conhecer a sede do meu tricolor das Laranjeiras com seu antigo estádio onde aconteceram as primeiras disputas entre os times do Rio e São Paulo e da América do Sul. O gramado e as arquibancadas estão em bom estado de conservação. Pena que o time não está correspondendo aos anseios dos torcedores, precisando em muito melhorar seus resultados em campo.

A centenária Confeitaria Colombo com todo seu esplendor, a Igreja da Candelária que nos faz lembrar o triste episódio do massacre das crianças de rua e a Central do Brasil onde o presidente João Goulart com seu discurso em março de 1964 criou espaço para o golpe dos militares, também estiveram no meu roteiro de lugares históricos visitados na cidade maravilhosa.

Para encerrar a viagem, uma bela praia lá na Barra, passando depois pela avenida Oscar Nieymar (a ciclovia que desabou uma parte pela força das ondas do mar ainda continua fechada), pelo Arpoador, Leblon onde morou o baiano João Ubaldo Ribeiro, Ipanema e o Jardim Botânico.

Fora os pontos feios e de degradação do meio ambiente que retratam nossas profundas desigualdades sociais decorrentes dos desmandos e desvios de recursos dos governantes e políticos, o Rio de Janeiro, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, continua todo poético com seus belos morros que, infelizmente, ainda abrigam a violência do tráfico de drogas e as guerras pelo comando do poder das regiões.

Nada disso existiria de tão feio e falido se os governos tivessem feito seu dever constitucional de realizar programas sociais em benefício daquela gente pobre, impedindo que bandidos entrassem nas áreas para fazer o que o poder público não fez durante tanto tempo. Agora eles, através das forças armadas, invadem as favelas com seus pesados tanques e armas para limpar suas sujeiras, como se isso fosse devolver a paz e o bem-estar social.


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