Ruy Medeiros | Advogado, professor e escritor | [email protected]
Trinta anos após o falecimento de seu pai (Jadiel Matos, ex-Prefeito de Vitória da Conquista), Márcio Matos foi assassinado. Não se afasta de mim a impressão de que seu assassino teve a mão armada por um desses latifundiários que teimosamente permanecem armados no campo e dispostos a contratarem o primeiro pistoleiro de seu conhecimento. Leia mais.
Trata-se de assassinato de um líder. Os líderes estão sendo livremente assassinados no Brasil. No ano passado (2017) dos 61 assassinatos no campo, neste País, 21 exerciam liderança de sua comunidade. O latifúndio está caçando líderes, não há outra conclusão diante dessa assustadora percentagem: um terço dos assassinados eram líderes.
Aos líderes de movimento pela conservação da posse da terra ou pela conquista dessa, assassinados soma-se agora o jovem de trinta e três anos, o conquistense Márcio Matos.
Conheci-o ainda bem novo, nos braços de sua mãe, professora na zona rural e integrante de comunidade Eclesial de Base, e do próprio Jadiel Matos, amigo e de quem fui assessor quando esse era Prefeito Municipal e ao qual auxiliei na disputa de um lugar na Assembléia Legislativa da Bahia, depois com seus onze, nos palanques onde Jadiel fazia política, como candidato.
Com o falecimento de Jadiel, veio a iniciativa para que o Município de Vitória da Conquista desse uma pensão a seus filhos. Jadiel, nascido em berço de ouro, morreu pobre. Márcio, ainda criança, visitou Vereadores de oposição para pedir-lhe apoio em relação ao Projeto de Lei (enviado por Guilherme Menezes, Prefeito) que o beneficiaria e ao irmão. Impressionou-os com seu desembaraço e inteligência. A iniciativa de procura-los fora sua, o que mais causava admiração aos interlocutores.
Depois disso encontrei-o algumas vezes. A mesma inteligência e capacidade de falar.
Embora estivesse afastado de cargo de direção no MST, Márcio continuava líder.
Deixa tristeza, mas deixa exemplo enorme de luta.