Eduardo Moraes | Bancário e Historiador | [email protected]
No último mês de dezembro de 2017, os conquistenses ganharam de presente do seu filho ilustre Elomar Figueira de Melo, um concerto em homenagem aos seus 80 anos de vida, bem vividos. Acompanhado pelo seu filho, Maestro João Omar, os amigos Xangai e Renato Teixeira. A casa de eventos Mediterrâneo, ficou completamente tomada por um público superior a 1.000 curiosos, apaixonados, alguns entendidos sobre a sua épica obra, outros nem tanto, como eu! O certo é que a maioria estava ali, ávida por ver e ouvir, músicas para os ouvidos, olhos, cérebro e coração. Foi uma oportunidade única para os que lá estiveram, não apenas para ver, mas participar daquele que foi um acontecimento. Um espetáculo inenarrável, mágico e magnífico que fica eternizado em cada célula dos corpos daqueles que se embriagaram em cada nota musical esparramada por todos os poros e alma da plateia, que ficou ainda mais extasiada a partir do anúncio da arrumação do primeiro Festival Nacional de Ópera, que acontecerá aqui em Vitória da Conquista em 2018. Leia a íntegra.
A minha relação com a música Elomariana, vem desde o tempo da minha “modernage” quando do lançamento do seu primeiro LP, na Quadrada das Águas Perdidas no final da década 70, no Clube Social Conquista. Eu nordestino bairrista pela gente, causos, jeito, fala e coisas da nossa gente sertaneja e catingueira, narradas nas obras de Euclides da Cunha, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa e Villa Lobos, esse, apaixonado pelo povo e coisas do Brasil. Para mim, ouvir e ler as letras das músicas de Elomar, é como se estivesse vendo, assistindo tudo em uma tela de cinema ou peça de teatro na qual os personagens ganham vida. Falo aqui sem pretender entrar na complexidade da genialidade artística do menestrel, até porque, estudiosos nas academias já trataram e tratam da sua obra litúrgica, em teses de mestrado e doutorado, produção essa, transformada em livros, documentários, filmes, árias de óperas, etc. Inclusive, na última Feira de Literária em Mucugê/Ba (2017), os professores Luís Otavio & Rita Pereira (UESB), abrilhantaram o público presente com as suas intervenções tratando das obras de Euclides X Elomar, diferentes olhares sobre o sertão. “Quantos sertões estão dentro do sertão? Aliás, o que é o sertão? Seria apenas o contrário ao que é o litoral? Ou aquilo que não está no centro”?
Entendo que para conhecer e compreender as coisas das Veredas do Sertão mineiro, nordestino e o seu povo, é preciso passar pelas obras artísticas de Elomar, que se junta a Euclides da Cunha, João Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Vila Lobos, João Cabral de Mello Neto e Josué de Castro, este quem melhor denunciou as razões e causas do flagelo da fome dos nordestinos. Para Euclides o sertanejo, “antes de tudo é um forte”! Graciliano nos apresenta um sertanejo miserável, sempre em retirada, sendo tangido pelo flagelo da seca, João Cabral, com a sua morte Severina, movida pela esperança, incansavelmente a caminhar em busca de melhores dias. Diferente do conjunto desses autores, Guimarães, em seu Grande Sertão Veredas, nos apresenta um sertanejo altivo, se reconhecendo enquanto sujeito em seu modo pitoresco de ser e falar. Villa Lobos destaca-se por nos apresentar em sua obra uma linguagem peculiarmente brasileira em música clássica, com variações das culturas regionais brasileiras, populares e indígenas. Elomar, fala de um sertanejo religioso, retirante, puro, belo e idílico. Esses gênios brasileiros, nem parece que viveram e produziram arte, cultura, saber e conhecimento em tempos diferentes pois as suas produções se complementam e parecem dialogar entre si, falando da desumanização provocada pelas agruras da seca, a miséria imposta pela ausência do Estado ou a exploração dos ricos latifundiários das regiões. Elomar, fez 80 anos no dia 21 de dezembro do ano que passou, e tem o seu feito reconhecido nos grandes centros do mundo musical erudito no Brasil e Europa. Essa produção pródiga, que narra a labuta e simplicidade do homem sertanejo, precisa ser apoderada pelos conquistenses, com essa mesma simplicidade desse homem narrado e apresentado em suas canções. Esse patrimônio colossal, gênio da música mundial erudita, excêntrico, comparável aos talentos daqueles que nascem à frente do seu tempo e habita no Olimpo, assim como: Euclides da Cunha, João Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Villa Lobos, Josué de Castro, vive entre nós! Que bom se tivéssemos mais oportunidades em desfrutar das suas obras de arte. Penso que assim como Villa Lobos à sua época, que levou à sua música para o povo. Hoje em tempos de globalização, tecnologia, comunicação virtual, informação e integração, Elomar pode fazer a sua obra chegar também a grande massa brasileira.
Eduardo Moraes
Historiador, Contador, Pós em Gestão Pública