Dirlêi Bonfim: Brasil e a tragédia do big besteirol

Foto: BLOG DO ANDERSON

Dirlêi Andrade Bonfim | Contador e Professor | [email protected]

Em diversos países no mundo, que iniciaram com os programas do chamado de reality show, raros mantiveram nas suas programações programas como esses. O Brasil é um dos poucos países do mundo que ainda mantém os seus realitys shows, sendo que um deles já está na 18ª. edição o chamado “big besteirol brasil”. Mas afinal, o que é reality show? Ele foi criado originalmente por John de Mol e Joop van den Ende em 1999, na Holanda, e recebeu o título de “Big Brother”. Eles pegaram esse termo do escritor George Orwell, em seu livro 1984, para designar um olho eletrônico que espionava as pessoas com o intuito de manter o domínio de um estado totalitário sobre tudo e todos. Leia a íntegra.

 

É algo assim, inacreditável. Quanto tempo perdido e uma geração inteira de jovens alienados…18(dezoito anos) anos, maior idade de besteirol. É claro, patrocinado pelas grandes corporações, os anunciantes e seus projetos mirabolantes de marketing. E me a questionar. O que são as redes de Tv´s…? Qual é o real papel dos veículos de comunicação de massa…? Esses veículos não são concessões públicas…? E para a exploração do negócio da comunicação em radio – difusão e Tv´s… não deve ter uma autorização expressa do governo federal, através de uma outorga chancelada pelo Ministério das Comunicações e assinatura do Presidente da República. Portanto, se são concessões públicas, quais são os mecanismos necessários para que a sociedade possa participar efetivamente da construção das programações destes veículos de comunicação…? E como eles são outorgados aos grupos empresariais…? O que está por trás desta cortina de incógnitas…?  E pergunto, como construir um projeto sério de educação decente para esse país, sem a participação dos veículos de comunicação…? E mais, que possa ser veiculado por essa grande mídia…?

Se não há espaços, compromisso e nem interesse dos próprios veículos e nem dos governos…? Se todos nós somos invadidos diariamente com todo esse “lixo cultural” que eles impõem a todo tempo à sua programação, que invariavelmente está recheada de programas absolutamente deseducativos, de baixo nível e que não contribuem em nada para a formação educacional, cultural e ética para a sociedade.  São insistentes, resistentes, procuram se cercar de todos os instrumentos possíveis para impor à sua vontade, metodologia de controle social, através da manipulação total das informações.

Segundo Chomiski (2012) “A estratégia da distração. O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração”, que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundação de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir que o público se interesse pelos conhecimentos essenciais, nas áreas das ciências, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais”, cativada por temas sem importância real, totalmente desconexos da realidade e recheados de cenários que retratam um mundo de ilusões. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado com o besteirol; sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja com os outros animais. (citação do texto “Armas silenciosas para guerras tranquilas”). Ou ainda,  “Conhecer os indivíduos melhor do que eles mesmos se conhecem. No transcurso dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência gerou uma brecha crescente entre os conhecimentos do público e os possuídos e utilizados pelas elites dominantes. O sistema conseguiu conhecer melhor o indivíduo comum do que ele a si mesmo. Isso significa que, na maioria dos casos, “o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos, maior do que o dos indivíduos sobre si mesmos”. Como se não bastasse, veiculam um sem número de programas de auditórios que ultrapassam as barreiras da mediocridade além de não oferecer nada de educativo, ainda contribuem para o embotamento cerebral de milhões de jovens…

Ao proceder uma análise mais depurada, chegamos a conclusão que a situação é grave, e o que é pior, sem perspectivas de alguma mudança relevante a curto prazo.  E mais, as pessoas estão sendo “educadas” direcionadas o tempo todo apenas para o “consumismo”, todos os programas estão comprometidos com os seus respectivos patrocinadores, a programação inteira de todas as redes de tvs e rádio difusão, obedecem aos ditames e as exigências dos seus patrocinadores. Portanto, um sistema em que a sociedade se escraviza e fica refém das grandes corporações, apenas para o consumo, consumo e consumo é o que nos apresenta a grande mídia do besteirol.

Mas, o Professor Bauman (2008), no seu clássico  A ética é possível numa sociedade de consumidores? Nos remete a algumas reflexões interessantes, quando vai nos dizer que a sociedade capitalista produz o medo à liberdade quando deturpa a ideia de indivíduo e individuação, descrita por Fromm. Segundo Fromm, os vínculos primários/orgânicos, que ligam a criança à mãe que tem o papel de propor a ela segurança e orientação, devem ser sobrepostos pelo fortalecimento físico e emocional; pela capacidade de fazer coisas por si mesma. Esse processo de individuação, que deveria ser natural, vem se fragilizando diante da sociedade que vive sob o fantasma da insegurança.  A alienação promovida pelos meios de comunicação, é brutal e nociva, eles elegem não só o que se deve consumir, mas também nos diz o grau de insegurança em que vivemos, dão o tom da vida diária do cidadão comum, com suas programações impregnadas de besteirol e lixo cultural, na desconstrução do processo educacional.

São comuns os embates  entre as gerações, principalmente na fase da adolescência, entretanto hoje nota-se uma apatia do jovem para as grandes discussões dessa época, a meu ver, embotados dos sentidos que desde sempre foram cerceados pela impossibilidade de serem livres e terem uma educação mais profunda, uma visão crítica e política do mundo que os cerca.

Assim, ainda de acordo com a Professora Annie Leonard (2007), no seu documentário “ A história das coisas”, faz algumas revelações e registros importantes, quando afirma de forma muito clara que “os governos estão a serviço das grandes corporações”, por interesses, conveniências e em alguns casos parcerias e conivências.

Na busca por uma maior compreensão e profundidade acerca do vocábulo alienação, me deparei diante de vários significados e sinônimos nas diversas expressões. Segundo Castells (2015),    “Alienação é uma forma de tirar a identidade das pessoas”. Uma pessoa alienada é aquela que age sem saber das coisas. Embora sendo uma pessoa que vive, não dá importância para o que se passa no mundo. E naturalmente forma grandes contingentes que transita nos bastidores da desinformação e deturpação de ideias, opiniões, valores e sistemas dentro da multiplicidade das relações sociais, que na maioria das vezes, talvez pela a indução das programações vazias das redes de Tv´s e rádio difusão, perde a vontade e não luta pelos seus ideais e que se submete a qualquer coisa.

A maioria das pessoas dentro do processo de alienação perdem a capacidade de analisar o cotidiano à sua volta com o mínimo de visão crítica e discernimento elementar sobre a política, as artes, as ciências, religião, bem como, de coisas mais simples e corriqueiras do dia a dia. O que se configura como uma tragédia social avassaladora, aliada a um processo de degradação educacional, vamos construindo uma sociedade com sérios problemas de ordem ética, social e cultural que não se reconhece como parte da solução dos problemas, acredita em “soluções mágicas, ilusões marqueteiras, em oportunistas de plantão e salvadores da pátria”.

**contribuição/realizada pelo Prof. DsC. Dirlêi A Bonfim, Doutor em Desenvolvimento Econômico e Sustentabilidade/Rede/PRODEMA/UESC, cursos de Administração, Ciências Contábeis e Engenharias da FAINOR/.2018.1**[email protected].**


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