Diego Sousa | Avoador
Há 10 anos, a violência cruzou o caminho de Jaimilton Lima, mais conhecido como Ligeirinho. Hoje, o antigo carroceiro não tem mais a agilidade de antes. Um assalto seguido de uma brutal surra tirou dele os movimentos da perna. Para sobreviver, de segunda a sábado, ele senta na porta do supermercado Santo Antônio, no centro de Vitória da Conquista, e fica à espera de ajuda das pessoas que ali entram. De trabalhador no passado, ele se transformou em pedinte no presente. Leia a artigo de Diego Sousa no site Avoador.
Nascido em Vitória da Conquista e criado no tradicional bairro Alto Maron, seu Ligeirinho conseguiu estudar até a 4ª série do Ensino Fundamental. Começou a trabalhar ainda criança para ajudar a família. Ele conta que nessa época não faltava trabalho, muito menos vontade de sua parte para tal. Foi daí que surgiu o apelido: pela sua agilidade e disposição para trabalhar. Atuou como jardineiro do Country Club, em Conquista, e exerceu a mesma função na Empresa Municipal de Urbanização de Vitória da Conquista (Emurc).
Como não corria de trabalho, certa vez foi fazer bico em uma festa de micareta como cordeiro, o profissional responsável por segurar as cordas que cercam os foliões do bloco que segue o trio. O ano era 2008, e o valor pago pelo trabalho era R$130,00. Depois da noite de trabalho, voltava para casa de ônibus, como sempre fazia. Quando desceu do transporte, foi cercado por quatro homens que o ameaçaram com pedaços de pau. “Eles queriam o dinheiro do meu trabalho. Em nenhum momento eu reagi ao assalto. Entreguei o dinheiro, resultado de uma noite inteira de esforço, mas ainda assim os bandidos bateram em mim com pauladas, chutes e soco, até eu desmaiar”, relembrou com um olhar de quem revivia aquele trauma.
Desmaiado, seu Ligeirinho foi socorrido e levado para o Hospital São Vicente. Ficou internado por cinco meses, três deles em coma. Mesmo com o atendimento, exames, cirurgias e acompanhamento, a agressão deixou marcas pelo corpo como a paralisia, quase que total, de todo o seu lado esquerdo. Emocionalmente e fisicamente a violência marcou seu Jaimilton para o resto da vida.
Encostado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), ele recebe um benefício de aposentadoria por invalidez. Casado, vive com a esposa e quatro enteados. Além das despesas com a família, tem os gastos com os remédios controlados que precisa tomar, os quais diz que são muito caros. Para dar conta das despesas, ele passou a pedir esmola.
Na porta do Supermercado Santo Antônio, seu Ligeirinho arrecada alimentos e dinheiro, e não sente vergonha por isso. “Foi a forma que encontrei para sobreviver e cuidar das pessoas que amo”. Ele conta que as pessoas costumam ser gentis e simpáticas, mesmo quando não lhe dão nada. “Ruim mesmo é ser mal tratado ou ignorado, como às vezes acontece”, desabafou.
Ele mora hoje no bairro Alto das Pedrinhas, numa casa construída no terreno do sogro, onde vivem dezenas de pessoas. Pega um ônibus no meio da tarde e segue para a porta do supermercado, onde fica até o comércio fechar, quando geralmente consegue pegar uma carona e retornar ao lar. “Chega o fim do dia e eu continuo com meu grande sonho na mente: comprar a minha casinha própria e mudar com minha família”, conclui com a voz fraca e muito baixinha, carregada do receio de que alguém ouça o seu grande desejo e com medo de que seu sonho fuja sem antes ser realizado.
Seu Jaimilton já não consegue mais correr e trabalhar como fazia antes, mas a força de um jovem ligeirinho ainda está dentro dele. É a força de quem acredita na vida e tem um sonho, algo que a violência não pode roubar.