Jeremias Macário de Oliveira | Jornalista | [email protected]
Pelo cenário que se desenhava com o avanço conservador evangélico, há anos vinha comentando que a extrema-direita no Brasil ia chegar ao poder. Quase ninguém concordou e ainda rebatiam que não havia clima. “Os tempos eram outros”. Quando começou o fenômeno Bolsonaro, disse que ia ganhar as eleições, mas não acreditavam nisso. Agora estou afirmando que estamos à beira de uma ditadura fascista com apoio do voto popular. Só não esperava que tudo fosse acontecer tão rápido. >>>>>
O voto de ódio é sempre o voto errado e irracional. Entre as piores, existiam outras opções melhores, mas prevaleceu a intolerância de medição de forças como numa disputa de derruba de corda entre as partes de regiões desiguais, com diferenças acentuadas de classes, gêneros, idades, cores e poderes. A religião provocou o arrastão, e nesta hora nem Jesus Cristo seria o candidato da solução conciliadora. Nesta eleição, nem Ele iria para o primeiro turno, para afastar o perigo maior de mais divisão e desagregação.
OS PRIMEIROS PASSOS
Sobre como nasce o fascismo, primeiro começam a falar, com insistência, de pátria, família, Deus, religião e moralidade, justamente quando o país está destroçado e mergulhado numa tremenda crise ética, política e econômica de baixa estima da população. É uma pregação recorrente. Na maioria das vezes, o indivíduo desenganado por grave doença, depois de ter tentado os métodos científicos da medicina, se apega a qualquer receituário de fora, inclusive a “curas milagrosas” de chás, folhas e todo tipo de tratamento alternativo, na busca desesperada pela salvação.
Foi assim que o nazifascismo foi inoculado no corpo debilitado da Itália e da Alemanha nos anos 20 e 30 do século passado. Uma ditadura é sempre precedida de uma grande crise e uma decepção do povo com relação a um governo passado. O terreno é bem fértil para um aventureiro salvador da pátria. Basta ler a história da humanidade desde os tempos dos sumérios da Mesopotâmia, do Egito, da Grécia e dos próprios romanos. Nos momentos mais difíceis, sempre surge um oportunista “libertador” que conta com apoio popular, mesmo que seja despreparado.
O ódio contra uma corrente oposta, que cometeu erros e desmandos contra a nação, é a porta de entrada do vírus fascista, e o seu mentor aproveita prometendo moralizar de vez a situação, colocando o nacionalismo, a família e Deus como restauradores do bem contra o mal. Ele se autointitula um predestinado do Senhor para cumprir esta missão. As ideias são de força, emprego da violência com balas e torturas, opressão às liberdades individuais, extermínio de minorias, de direitos humanos e até de programas sociais, com um Estado mínimo, mas interventor. Nesta hora, todos se juntam à ordem de “vamos acabar com esta bagunça”.
Os inimigos facilitadores pela adesão ao fascismo são parecidos. Na Alemanha de Hitler eram os judeus que levaram o país à bancarrota. Na Itália de Mussolini, o anarquismo e o comunismo foram os vilões. Naquela época, as fake news foram os instrumentos mais usados para propagar o ódio e atrair multidões. As mentiras viraram verdades. A peste, a fome, as doenças e tudo o que era de ruim foram colocados como de responsabilidade direta desses inimigos. Os discursos raivosos exaltavam a ordem, e tudo podia ser feito em nome da pátria, não importando os métodos usados para combater a “imoralidade”.
Entre nós nos, a corrupção disseminada pelos governos do PT passou a ser a inimiga pública maior, que terminou por gerar o ódio e a violência. Em nome dela vale o retrocesso, o atraso e o apoio às ideias malucas fascistas. Os que foram às ruas contra Dilma, pelo seu afastamento, e bateram os panelaços, se recolheram com o Temer, o mordomo da Drácula. Agora reapareceram mordidos pela mosca exterminadora, em busca de vingança a qualquer custo, sem medir as consequências. O PT criou Bolsonaro e vem ai o tiro fatal saído pela culatra de toda era Lula. Não se sabe a extensão dos estragos.
Sei que a grande maioria hoje contesta tudo que digo sobre esta onda estúpida de extrema-direita, e que eu esteja até a serviço da antiga esquerda marxista-leninista, que não tenho noção e que estou delirando. No atual quadro de cegueira pelo ódio, espero até mais que isso. Pelo rumo das discórdias e revanchismos entre as partes, nada mais pode ser feito para uma parada de reflexão. A sorte está lançada e só depois o tempo dirá.
A história tende a se repetir. Os alertas do passado também em nada serviram. No entanto, depois dos horrores ocorridos na Alemanha, por exemplo, (não é para tanto aqui), a mídia internacional fez uma série de reportagens entrevistando os sobreviventes da opressão.
Na época, todos que deram apoio aos vencedores foram categóricos em dizer que não acreditavam que eles fossem fazer todos aqueles absurdos e atrocidades, mesmo tendo falado antes e durante suas campanhas. Achavam que era só estratégia política para ganhar o governo e moralizar seu país, que se encontrava em decadência. Todos ansiavam por tempos melhores e tinham certeza que eles tinham boas intenções. Que estavam preparados e em condições de reparar os erros do passado. Outros negaram ter dado apoio, mas todos concordaram que foi horrível.