As curiosidades do Mundo Grego: Filosofias e Sabedorias

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Jeremias Macário de Oliveira | Jornalista | [email protected]

Por volta de 350 a.C. os ricos em Atenas se tornaram tão antissociais que preferiam lançar seus bens ao mar a reparti-los com os pobres. Tinham mais ódio à riqueza alheia do que compaixão pela miséria pessoal. Aristóteles conta que existia um clube aristocrático que tinha como juramento agir contra a coletividade. Muitos se rebelaram contra as desordens, as sonegações, a corrupção e os abusos. Cada um procurava defender seus interesses, como no nosso país de hoje. >>>>>>

  EPAMINONDAS – Atenas, Tebas e Esparta ainda se mantinham em condições de salvar uma Grécia desordenada e ensanguentada por volta de 400 a.C. As riquezas, segundo Aristóteles, se concentravam na classe patronal, que as guerras haviam reduzido a um pequeno número. Esparta continuava prepotente e prevaricadora.

  Com um corpo de 12 mil mercenários espartanos, sob o comando do ateniense Xenofante, o rei persa Ciro foi derrotado e morto em Cunassa. O episódio encheu de orgulho a Grécia e convenceu Agesilau, rei de Esparta, de que a Pérsia era um grande império, mas de barro.

  Atenas e Tebas se uniram aos persas de Artaxerxes. Em Cnido, o almirante ateniense Cônon destruiu a frota espartana em 394 a.C. Agesilau mandou oferecer todas as cidades gregas da Ásia em troca da neutralidade. Em 387 houve a paz de Sardes. Chipre e toda Ásia grega passaram a ser persas.

 Esparta continuou sendo a maior potência, mas sendo vista como traidora e impôs governos oligárquicos na própria Beócia. Com isso, o jovem Pelópidas tramou uma conspiração e junto a outros assassinaram os ministros espartanos e reorganizaram a Confederação da Beócia. Pelópidas proclamou a guerra santa, decretou mobilização geral e confiou o comando do exército a Epaminondas, um dos personagens mais complexos da antiguidade.

Mesmo homossexual (na Grécia não era sinônimo de efeminação), Epaminondas, de família aristocrática, era sisudo e quieto desde menino. Por incrível que pareça, não gostava de guerra. Quando lhe ofereceram o comando respondeu: Pensem bem. Se fizerem de mim seu general, eu farei de vocês os meus soldados e, como tais, terão uma vida muito dura.

Epaminondas dispunha de seis mil homens contra dez mil de Esparta. Com sua tática, colocou um grupo de trezentos jovens homossexuais em dupla que juraram fidelidade até a morte. Esparta foi derrotada. O general convenceu-se que poderia dar a Tebas o primado. Entrou no Peloponeso, libertou Messene e fundou Megápolis.

Ódios e ciúmes impediram a unificação da Grécia. Atenas saudou a vitória contra Esparta, mas via com maus olhos o crescimento de Tebas, Chegou a coligar-se com o inimigo para derrubar Epaminondas. Deu-se a batalha de Mantinéia em 362 a.C. e venceu outra vez, mas foi morto por Grilo, filho de Xenofante. Com ele, morreram os sonhos da hegemonia de Tebas.

A DECADÊNCIA DA “POLIS” – Atenas voltou a sonhar com a supremacia e voltou a construir os antigos muros, se cuidando para não cair nos mesmos erros depois de Péricles, mas não teve jeito. Criou nova Confederação com colônias submetidas a ela, adotando mesmos métodos. Muitas cidades se rebelaram e veio a segunda Confederação em 355, em meio a revoltas e repressões.

 O vocabulário de Atenas, como cita o autor do livro História dos Gregos, Indro Montanelli, foi acrescido de três palavras: Pleonexia (mania de supérfluo), Chrematistike (febre de ouro) e Neoplutoi (nossos tubarões). Platão dizia que havia duas Atenas, a dos pobres e a dos ricos em luta.

 Isócrates acrescentou que os ricos tornaram tão antissociais que preferiam lançar seus bens ao mar a reparti-los com os pobres. Estes têm mais ódio à riqueza alheia do que compaixão pela miséria pessoal. Aristóteles conta que existia um clube aristocrático que tinha como juramento agir contra a coletividade.

Era a legalização da desordem e dos abusos. As sonegações e a corrupção eram regras correntes. Todos procuravam gozar a vida e nada mais. Segundo Teopompo, já não havia mais uma família estável e o desregramento não se limitava às classes altas. Para encontrar uma pessoa  de boa espécie, seria preciso procurá-la no cemitério – dizia Isócrates.

Na polis todos eram soberanos e súditos. Todos eram deputados de si mesmos. Todos iam ao parlamento defender seus interesses. Cada um, conforme o sorteio, competia presidir a uma pritania, uma secção do Conselho de Estado. O agnosticismo político era considerado um crime e uma imoralidade. O estado-maior não era de carreira. Os generais eram improvisados. Recebiam o cargo de acordo com a posição política.

Cada qual era seu próprio comandante, seu próprio súdito, legislador, soldado, médico, sacerdote e filósofo. Xenofante, ex-aluno de Sócrates, se tornou um areté, isto é, um homem completo, capaz de discorrer sobre tudo, mas sem profissão definida.

Ao profissional permitia-se o desenvolvimento da sua profissão. Assim fez Alcibíades que se colocou a serviço de Esparta e depois da Pérsia, só que foi condenado como traidor. Xenofante não pensou em traição, mas em Atenas, como um homem de ofício ia aonde o ofício o chamasse. Sua obrigação era a competência.

Os chamados “técnicos” não queriam saber de uma polis de limites estreitos, e foram eles que formaram a palavra Cosmópolis, um mundo não mais limitado por muros e cortado por autarquias nacionais. Muitos gregos começaram a pensar em termos de Grécia, e não mais de Atenas, Tebas ou Esparta.

Platão e Aristóteles disseram que uma polis só é bem governada quando os cidadãos são tão poucos que todos se conhecem entre si. Isso já não acontecia nas polis gregas. O congresso impunha uma divisão mais complexa, bem mais especializada do trabalho. A cidade-estado já não se ajustava às novas necessidades da sociedade.

DIONÍSIO DE SIRACUSA – No quarto século antes de Cristo, Siracusa, a mais importante colônia grega, continuou a se desenvolver ainda que em meio a turbulências, entre períodos democráticos e totalitários.

Dionísio foi o tirano mais desapiedado e mais iluminado. De sua fortaleza de Ortígia dominou a cidade com métodos stalinistas e critérios socialistas. Na distribuição de terras, não fazia distinção entre cidadãos e escravos. Quando os cofres do Estado estavam vazios, anunciava que o deus Deméter lhe aparecera em sonhos, pedindo a todas as mulheres que depositassem suas joias no templo. Todas obedeceram e que transgrediu a ordem, a polícia aparecia para dissuadi-las.

Para expulsar os cartagineses da ilha, mandou requisitar todos os mecânicos gregos. Os que recusassem, mandava rapatá-los. A invenção da catapulta deixou-o exultante. Julgou que, com tal arma nas mãos, ninguém mais poderia resistir-lhe. Mesmo com guerras de trinta anos, os gregos continuaram donos da Sicília oriental e os cartagineses da ocidental.

 Quando o filósofo pitagórico Fíncias, por ele condenado à morte, lhe pediu um dia de licença para ir à casa fora da cidade resolver um assunto pessoal, Dionísio consentiu. Vendo que Fíncias voltou a tempo, poupou-o da condenação.


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